de Anagarú

No Memorável de hoje:

- Casca do camarão combate hemorragia (Jornal do Brasil, Rio)
- Bush festejado como um novo Churchill (La Vanguardia, Barcelona)
- Velo islámico (La Vanguardia, Barcelona)
- Fin de vie: l'expérience néerlandaise (Le Figaro, Paris)
- O mistério da câmara funerária de Kheops (Le Temps, Genève)
- Lançadas variedades de bananeiras resistentes à sigatoka-negra (Ambiente Brasil)

No Memorável de hoje:

- Sólo ojos para Nayaf (ABC, Madrid)
- Organizações, por Vasco Pulido Valente (Diário de Notícias, Lisboa)
- A não esquecer, por Vasco Pulido Valente (Diário de Notícias, Lisboa)

Porque será? - Diz o jornal "Correio da Manhã" que o Governo quer tornar Portugal num gigantesco "estúdio" ou cenário ao ar livre para a rodagem de filmes internacionais, uma espécie de Hollywood da Europa. O diário acrescenta que a ideia já não é propriamente nova, mas o ministro do Turismo, Telmo Correia, viu nela, certamente, grandes virtualidades e decidiu enquadrá-la na estratégia de promoção da "Marca Portugal".

Porque será que o Governo de Espanha - com mais diversificada cenografia natural - nunca pensou nisso?

Não bastava? - O mesmo jornal informa que cinco ministros, incluindo o primeiro-ministro, seguem atentamente o desenrolar dos acontecimentos relacionados com a chegada, prevista para domingo, do "Barco do Aborto" a Portugal.

Mas será que não bastava a atenção de uma auxiliar de um chefe de repartição?

De pacóvios - Parece que não, pois - soube-se mais tarde - o Governo proibiu a entrada do navio em águas territoriais portuguesas. E, claro, nenhum responsável quereria assumir, sozinho, decisão tão imbecil. Encostados uns aos outros, para os ministros foi mais fácil a asneira.

De pacóvios.

De parolos e de inábeis. Ao intrometerem-se no assunto do barco; ao impedirem de entrar em Portugal uma meia dúzia de pobres defensores do aborto; ao provocarem uma gritaria monumental, ensurdecedora e inútil no País; ao elevarem ao nível do Estado um pequeno caso sem qualquer relevância política, económica ou social; ao acreditarem que, proibindo, revelavam autoridade e que esta autoridade revelada lhes vai dar votos; ao esquecerem que pró ou contra, com lei ou sem lei, abortar é de facto um dos direitos humanos das mulheres.

Deixaram-na viva - O padre islamita xiita iraquiano Moqtada al-Sadr conserva intacto o seu potencial militar de destruição, aumentou a aura de resistente iluminado perante os seguidores e o seu radicalismo religioso contagia crescentemente milhares de outros árabes fora do Iraque.

Dito de outro modo, os EUA deixaram viva a serpente venenosa e ela continua a desovar. Dos filhotes também já saiem ovos, numa multiplicação de que ainda não se vislumbra o fim.

Que acontecia? - A tv árabe Al-Jazira não passou as imagens do jornalista italiano Enzo Baldoni decapitado por árabes "para não chocar - disse - a sensibilidade dos telespectadores". Parece que todas as outras tv's, em todo o Mundo, fizeram o mesmo.

Pois imagine-se que todas elas, em nome da verdade, tinham mostrado e re-mostrado o que aconteceu: os criminosos a rezarem a Alá, a vítima indefesa amarrada, um dos carniceiros a erguer o facalhão e a exibi-lo para a câmara, a bainha a entrar no pescoço do jovem inocente, a sua cabeça a rolar um ou dois metros, o sangue a jorrar aos borbotões e o ar feliz dos assassinos após o crime.

Que acontecia?

Acho que uma revolta mundial contra os terroristas. O que muita gente não quer e, por isso, os protege do nosso ódio... "protegendo" a nossa "sensibilidade".

O polícia ou a criança? - O demissionário secretário geral do PS continua muito chateado com o ex-Director Nacional da Polícia Judiciária pelo facto de este ter referido o seu nome numa conversa telefónica sobre o caso da pedofilia com crianças da Casa Pia.

Mas não é verdade que quem envolveu o indivíduo naqueles crimes sexuais foi a criança e não o polícia que a ouviu?

No Memorável de hoje:

- La lección de Nayaf (ABC, Madrid)
- Las torres gemelas de la Rusia de Putin (ABC, Madrid)
- A pedagogia de São Tomé (Jornal do Brasil, Rio)

Dois documentos sobre o "escândalo da Casa Pia" no Memorável, divulgados pelo Do Portugal Profundo. Para ajudar a entender o que muito protagonista quer ocultar no meio da gritaria sobre o "estado da Justiça".

- Depoimento de vítima sobre Ferro, Gama, Pedroso e outros
- Recurso do MP sobre a não-pronúncia de Pedroso, Herman e Alves

No Memorável de hoje:

- Também vida em Ganímedes? (Le Figaro, Paris)
- «La loi instaurera le droit de mourir dans la dignité» (Le Figaro, Paris)
- Sismos tão destruidores como o de 1755 podem ocorrer cada mil anos (ABC, Madrid)
- Sondagem coloca Bush na frente (Jornal do Brasil, Rio)
- Misturados com a multidão depois de esconderem as armas (Le Soir, Bruxelas)
- Imagens (Diário de Notícias, Lisboa)
- O criador e a criatura (Diário de Notícias, Lisboa)

A imagem - Não deve haver registo de imagem mais patética em jogos do Benfica: batido o guarda-redes, o defesa Argel - ferido com um longo golpe na cabeça atada com ligaduras - a impedir com a mão que entrasse na baliza a bola rematada por um jogador do Anderlecht.

É o Benfica de Vieira, Veiga & Trapattoni. Batido, ferido, atado e em falta.

Técnicos e cliente
A pessoa que estava a utilizar o automóvel não sabia a pressão adequada para aqueles pneus. Pareceu-lhe que um deles estava em baixo e, na dúvida, foi à oficina. Aí disseram-lhe que tinha razão na suspeita e que os outros três também estavam mal; a pressão adequada, para aqueles dois técnicos, era de 3,5 bar. Encheram.

Relatado o acontecido ao proprietário do veículo, este disse que a documentação do carro mandava 2,2. E deu ordem para esvaziar.

A pessoa foi a outra oficina, com receio de confrontar com a evidência os especialistas da primeira.

Pediu aos novos técnicos para vazarem até aos 2,2. O chefe prontificou-se a fazer o serviço e informou o cliente de que 2,2 era... o mesmo que 3. E encheu, sem ouvir protestos, os quatro pneus a 3,0 bar.

Culpados
As chamas aproximavam-se das paredes da casa depois de consumirem extensa área de ervas secas no quintal. Populares faziam grandes esforços na tentativa de conterem o fogo. O ambiente era de dramatismo, com os gritos, os lamentos e o sofrimento do costume.

Os donos do terreno também lá estavam, no combate. Sem consciência de que a culpa da desgraça era deles, por não terem pegado há um mês em dois ancinhos para retirarem a palha para um canto.

No Memorável de hoje:

- Descoberto novo planeta extra-solar (Le Figaro, Paris)
- Cigarro polui mais que alguns motores (Ambiente Brasil)
- A crise do vazio, por João César das Neves (Diário de Notícias, Lisboa)
- Jogos, por Vasco Pulido Valente (Diário de Notícias, Lisboa)
- Um cenário, por Vasco Pulido Valente (Diário de Notícias, Lisboa)
- Bola na praia, por José António Barreiros (Diário de Notícias, Lisboa)

SE 00h45.49 - HM57.01PTM acaba de ser sugado para o Espaço. Foi em menos de dois segundos, tempo tão curto na Terra que nem deu para ver em que direcção a Força o levou. Nem o rasto se lhe viu; se é que deixou, o que é muito duvidoso.

SE 00h45.51 - Rápido sentiu a ausência de gravidade. O desiquilíbrio era total. Trambolhava entre as estrelas. Via-as aproximarem-se a milhas e a milhas se escaparem. Alucinante. Os pontos viravam linhas. A velocidade era tal que as linhas rompiam. HM57.01PTM não tinha uma referência fixa para os olhos. Havia cor, muita cor no fundo negro. E muito viva e muito quente. Dominava o vermelho com laranja, com muitos tons. Parecia fogo. Daí ter pensado que estava a ser transportado para Marte.

SE 00h58.11 - HM57.01PTM não estava minimamente preparado para a viagem. As curvas permanentes - sim, que ele ia a rodar sobre si mesmo - os saltos, os contrasaltos - claro, pois aquilo parecia plano, mas era da ilusão - sem direita, sem esquerda, tudo em movimento, não lhe fizeram nada bem. Enjoou, vomitou e emerdou. Até ficar vazio.

SE 02h02.30 - Passada cerca de 1 hora - tempo contado pelas da Terra - HM57.01PTM já estava quase um inerte objecto espacial. Deixou-se dormir e ir.

SE 12h13.12 - Deve ter sonhado muito durante o sono profundo. Sonho estranho, de que HM57.01PTM ainda lembra coisas esquisitas como o ter-se atirado para um sofá, o ter tirado calças e sapatos, o ter arrastado com os seis no chão (pés, joelhos e mãos) o resto do corpo para o wc, o ter lutado com as paredes do corredor que o não queriam ajudar, o ter brigado com as portas da cozinha e da rua que estavam a pretender resistir, o ter desejado descansar no cimo das escadas mas ter sido impedido de o fazer já veremos como e porquê, o ter desfechado o portão, e mais coisas, mas estas mais vagas e nevoeirentas.

SE 12h20.47 - Também não sai da memória de HM57.01PTM o bicho muito grande e muito peludo com que se deparou no cimo da escadaria, sentado de frente para a porta, aparentemente vigilante e preocupado, aí umas boas 3 horas depois da sua espantosa partida para o Espaço. HM57.01PTM interpreta que o cachorrão captou as ondas cerebrais da sua aflição e estava ali à procura de saber como poderia auxiliar. Também ainda não apagou que o amicão lhe deu um forte abraço, logo que o sentiu sentado ao seu jeito no patamar, tão forte que o ia atirando pelas escadas abaixo, metendo-lhe toda a enorme cabeça debaixo do braço.

SA 20h13.12 - Não se sabe porquê, a Força deixou HM57.01PTM regressar à Terra, ou quis que ele regressasse, ou mandou-o embora. E o retorno demorou 72 horas, mais uma menos uma.

DO 10h45.00 - Durante a lenta volta aconteceram muitas coisas. Logo no início HM57.01PTM quis, primeiro, saber se existia. Apalpou a cabeça - tinha cabeça e mãos. Colocou o braço esquerdo sobre o peito - tinha braço esquerdo e coração. Correu com o braço direito para o pirilau, mexeu e sentiu - tinha braço direito e o pequenino actuava. Mais descansado, ergueu os joelhos e depois as pernas - e constatou que estava inteiro. Abriu, só depois, os olhos. E viu, feliz, que via. E foi repetindo, durante o regresso, estas experiências, várias vezes, regularmente, para testes comparativos com os anteriores. Todos confirmativos.

SE 13h00.00 - Pretendeu, então, já reeentrado na atmosfera, saber como estava de seu juízo. Aí foi fácil para HM57.01PTM: compreendeu de imediato que Al-Sadr ainda não estava morto, que o petróleo continuava caro, que o rival de Bush não o amedronta, que Bin Laden continua a fazer a suas preces, que Sharon continua um seguro de vida para milhares de judeus, que Arafat está de saída, que a Palestina pode finalmente ser um Estado independente, que isto está mau para os pequenos na União Europeia, que os emigrantes do Norte de África não desistem de entrar aqui, que o Benfica já devia ter despedido o trapalhão do Trapatoni, que os medalhados olímpicos portugueses são quase nenhuns, que os seus comentadores preferidos continuam a comentar, etc, etc.

SE 17h55.09 - Sentia-se, pois, normal. Talvez por não saber que o pior estava para suceder. E sucedeu. HM57.01PTM foi tesicado, mortificado, tortutado antes de entrar para os testes médicos. Tanto, que a tensão lhe subiu para o beiral do desastre: 21-12.

SE 17h57.33 - Foi com estes ditos, e com HM57.01PTM a ouvi-los sentindo que estava a ser ferido à paulada: "Ele estava muito mal, muito mal, parecia verde"; "Não reza, é por isso"; "Eu bem lhe digo para ter cuidado, mas não adianta"; "Não há meio de ter juízo"; "Porque não disseste nada"; "Ainda te acontece o pior"; "És teimoso e não sabes cuidar de ti"; "Olha, foi assim que o sr. Messias morreu".
Ele replicava "Calma, controlei sempre o pulso; nunca passei das 60 pulsações por minuto". Mas a onda que veio a seguir era gigantesca: "Pois, até as pulsações tens estragadas".

TE 09h20.25 - O agora doente HM57.01PTM teve de ser medicado contra a tensão alta.

QUA 10h30.00 - Mas viam, os entendidos, que a doença era passageira para um tipo duro de roer. Era mesmo. Enquanto esperava pela sua vez de fazer as análises (são tantas que parece que é a tudo o que tem no corpo) HM57.01PTM viu entrar na sala uma moça com a qual, acidentalmente, cruzou olhares. Repetidos a seguir sem ser por acidente. Ela é que estava mesmo quase verde e ele sentiu desejos de lhe perguntar "o que sente" e de lhe pegar a mão com carinho. Mais tarde, saído do consultório com o resultado do electrocardiograma - "Olhe, nem um rapaz de 20 anos!", saudou-o a médica - aquele que se sentiu sugado para Marte estava a sonhar pedir à Força para o levar quanto antes para Vénus.

* HM57.01PTM: Human Male de 57, o 01 from Portugal to Mars

Era costume
Choveu toda a noite, parte da manhã e adivinhava-se que voltaria a chover durante a tarde. Todos os terrenos estavam ensopados.

Cerca do meio dia, o auto-tanque aproximava-se - cheio de água - da estrada em construção que costuma molhar para evitar o levantamento da poeira.

Não!!! - Segundo a imprensa, Luís Figo diz que chegou "o momento de fazer uma pausa" nas suas participações na selecção nacional, acrescenta que não é um "adeus" definitivo mas sim "um até já" e admite fazer um ou outro jogo mais complicado da fase de apuramento para o Mundial 2006.

Obrigado, mas não! Por favor! Que fique em casa a ver os jogos pela TV. Já nos fez perder o Europeu e a gente não esquece. Claro que Felipão também teve culpa... por não o ter substituído na final contra a Grécia.

Olhado o caso de outro ângulo, vê-se como é patético não se saber envelhecer e não se dar conta de quando já há vários substitutos melhor dotados.

Previsível - Os directores do nacionalizado "Diário de Notícias" não deixaram publicar - segundo o "Público" - uma peça baseada numa entrevista que Álvaro Barreto deu ao "Semanário" de 12 de Outubro de 1996, pouco depois de um congresso do PSD. Nela, o agora ministro de Estado dizia: "Não penso, sinceramente, que Santana Lopes (o agora Primeiro Ministro) tenha grandes 'chances' de poder vir a ser no futuro líder do PSD, quaisquer que sejam as circunstâncias, pois cometeu demasiados erros nos últimos tempos. O seu prestígio do ponto de vista político está e estará seriamente abalado."

Como se antevia há um mês aqui, a pressão governamental funciona, na encomenda e no frete. Previsível.

No Memorável de hoje:

- Descobertas no Perú cidades pré-incaicas (Jornal do Brasil, Rio)
- Por qué no despega Kerry (ABC, Madrid)
- El nuevo mapa exterior de Estados Unidos (ABC, Madrid)
- "Preço mínimo" para a fruta e legumes? (Le Monde, Paris)
- Crise no DN (Público, Lisboa)

1. Da fecundação à nidação
2. Embrião
3. Diário de um bebé feliz
4. O desenvolvimento...
5. O coração principia a bater
6. Como se desenvolve
7. Hoje a mãe fez nova ecografia, exactamente 80 dias (11,42857142 semanas) após a fecundação. Ela e o médico viram os pés, mãos, dedos, nariz, coluna. E não o sexo. A criatura estava de pernas cruzadas e não o deixou ver. O médico ainda a provocou - dando uns toques na barriga da mamã - mas as pernitas continuaram a esconder "aquilo", prolongando o mistério.
8. Aposto que é uma rapariga.

No Memorável de hoje:

- Nova esperança contra o paludismo (Le Monde, Paris)
- RFA triste com a saída de militares dos EUA (ABC, Madrid)
- Via Láctea tem 13 biliões de anos? (Jornal do Brasil, Rio)
- A morte da política por Maria Filomena Mónica (Público, Lisboa)
- Aljubarrota por Vasco Graça Moura (Diário de Notícias, Lisboa)

Viciado - Os revendedores de combustíveis dizem que não conseguem pagar a 5 dias às gasolineiras e só receberem das autarquias a 30. Ou seja, explicam porque não podem continuar a financiar as câmaras municipais.

Em resposta, o Presidente da Associação Nacional de Municípios disse-lhes duas coisas:
- vão-se queixar ao governo central;
- se não fiam, não haverá mais licenças para novos postos de abastecimento e alguns dos existentes até podem ser encerrados.

Viciado na auto-desresponsabilização e na chantagem, não lhe ocorreu que o normal seria pagar a gasolina e o gasóleo logo depois de encher o depósito do carro - como todos nós. E a dinheiro vivo ou com multibanco, sem usar cheques - que a nós também estão proibidos.

No Memorável de hoje:

- Cassini descobre 2 novas luas de Saturno (Le Soir, Bruxelas)
- O Papa perto do fim (Jornal do Brasil, Rio)
- Uma vítima do "processo mediático" (Correio da Manhã, Lisboa)

Há barrigas
de freira, de abade, de aluguer
de porco, de água, de cerveja
inchadas, as fartas , as vazias
as grandes, as gordas, as vaidosas
as pretas, as brancas, as amarelas
as castanhas, as lisas, as engelhadas

Há coisas
que fazem dor de barriga
que fazem perder barriga
que fazem comichão na barriga
que dão para encolher a barriga
que dão para encher a barriga
que dão grandes barrigadas

Há sensações
de um frio nelas
de um rei nelas
de mais olhos que elas
com elas para baixo
com elas para cima
com elas esbodegadas

E há pessoas
como eu, muito enervadas.
por pensar na da grávida,
no pipinho da pipita,
sem saber que criancita
macho ou fêmea vamos ter

Qual a criatura? Que tortura!

No Memorável de hoje O Olho Vivo foi ao cinema ver televisão, de Eduardo Cintra Torres no jornal "Público" (Lisboa).

No Memorável de hoje:

- Petróleo sobe por causa dos especuladores (La Vanguardia, Barcelona)
- Crise hoteleira ou turística? (ABC, Madrid)
- China, EUA e Índia serão os mais poderosos em 2050 (ABC, Madrid)
- A Justiça por Vasco Pulido Valente (Diário de Notícias, Lisboa)
- Ecos por Vasco Pulido Valente (Diário de Notícias, Lisboa)

Três citações da entrevista a David Bouvier, professor de grego antigo na Universidade de Lausanne, publicada no diário Le Temps de Genève e que pode ser lida na íntegra no Memorável de hoje.

1. A democracia grega implicava a escravatura e excluia as mulheres - "Inventeurs de la démocratie, les Grecs auraient élaboré un régime politique parfait, permettant l'émergence de la philosophie, de l'histoire. On peut penser à Chateaubriand qui vantait d'autant mieux la démocratie grecque qu'il voulait louer la démocratie française. Au passage, il a seulement oublié que la démocratie athénienne impliquait l'esclavage, qu'elle excluait les femmes."

2. A Grécia Antiga e a Grécia do verão - "En fait, notre image de la Grèce est aujourd'hui double: il y a la Grèce de l'été, celle des vacances avec son ciel toujours bleu et ses îles qui baignent dans une mer turquoise. Et puis, il y a la Grèce antique, peuplée de dieux et de héros, territoire de mythes et de légendes, mais aussi patrie première de la philosophie et de la démocratie. Dans nos têtes, pour le dire comme ça, je crois que les deux images se confondent et se superposent, pour s'embellir réciproquement. Il y a un amalgame, finalement assez sophistiqué, de la Grèce antique et de la Grèce touristique."

3. Para medir a diferença que nos separa dos Jogos antigos - "Les Grecs anciens ignoraient le terme «sport». Les Jeux athlétiques étaient célébrés dans des fêtes religieuses où l'exploit athlétique avait une dimension religieuse et culturelle. Aux Jeux athlétiques s'ajoutaient des joutes culturelles. Et les poètes joutaient pour célébrer les athlètes et les cités vainqueurs. Mais pour bien mesurer la différence qui nous sépare des Jeux antiques, on peut penser à un haltère antique récemment exposé au Musée olympique de Lausanne. Sur cet haltère, employé pour le saut, l'athlète a fait inscrire, au milieu du Ve siècle av. J.-C., en vers, une dédicace au dieu Apollon. Montons un étage et découvrons dans le même musée les baskets que Michael Jordan a dédiées au musée. Sur les chaussures de la star du basketball, aucune inscription en vers, aucune dédicace à aucun dieu, juste le nom, bien lisible, d'une marque de chaussures de sport."

Vergonha - Sérgio Paulinho conseguiu um feito extraordinário: obteve a medalha de prata do ciclismo de estrada nas Olimpíadas de Atenas - a única medalha olímpica na modalidade para Portugal.

Pois em vez de dar os parabéns ao ciclista na sua primeira entrevista em directo para o telejornal após a gesta, o director da RTP1 - e professor (!) de jornalismo não me lembro onde - iniciou o diálogo mandando um repórter perguntar ao novo herói... "o que falhou para o ouro".

Ordem dada, certamente, após a profissional reflexão sobre o acontecimento. Do tipo, em linguagem de redacção, "foda-se, caralho, o cabrão não teve pernas no sprint final, o filho da puta de merda".

Uma vergonha.

No Memorável de hoje:

- La Grèce et nous: mythes et realité (Le Temps, Genève)
- Hubble apanha imagem de bolha de gás interestelar (BBC Brasil)
- Mulheres "engravidadas por Jesus"... (BBC Brasil)
- Europe: la France négligée (Le Figaro, Paris)
- Le viaduc qui défie Poséidon (Le Figaro, Paris)
- O corpo tem antibiótico natural contra a bactéria que causa úlceras (ABC, Madrid)
- Deporte, Espectáculo y Dopage (ABC, Madrid)
- Ferro na pedofilia por ser anti-americano! (Correio da Manhã, Lisboa)
- Jornalismo "de referência"... (Jornal do Brasil, Rio)
- Colónia de formigas com 100 km (Jornal do Brasil, Rio)
- Sensores dos besouros e das cobras contra os fogos florestais (Jornal do Brasil, Rio)

Mentiras incompletas - Segundo o jornal "Público", no entender da maior parte dos directores de órgãos de informação "os jornalistas não devem gravar conversas sem autorização prévia nem as informações assim obtidas devem ser publicadas, embora o interesse público possa levar a uma decisão contrária".

Entende-se. O jornalismo é assim. Precisa das "fontes" para ter o que publicar e elas, por sua vez, precisam dos jornalistas para publicarem o que precisam de ler, ouvir e ver publicado. E em 95% das matérias servidas ao público, pelo menos, esta parelha é cúmplice nas imprecisões e meias verdades - para não lhe chamar mentiras incompletas - de que são feitas a imprensa, as rádios e as televisões.

Daí o horror ao gravador. Realmente, se fosse obrigatório os jornalistas gravarem as conversas que têm com as "fontes", certamente que não haveria "fontes" nem órgãos de informação.

Como de costume - A Ministra da Educação e Ensino Superior disse que a Universidade Pública de Viseu arranca em 2005/2006. Os estudos ainda não estão concluídos, mas a promessa já está feita. Como de costume.

Veremos então daqui a um ano com quantos alunos a nova instituição vai funcionar e a que outras universidades, institutos superiores e politécnicos os vai roubar e por que meios. Se "outdoors", publicidades na comunicação social ou mensagens nas discotecas. E com que conteúdo a campanha de angariação será feita.

Quanto aos professores, não há problema: de manhã dão no Piaget, antes de almoço no Politécnico, ao princípio da tarde na Católica e hora e meia depois na Pública.

Criada de servir - O semanário "O Independente" publicou na edição de hoje material informativo roubado ao diário "Correio da Manhã" - sem autorização deste. Mais: que este, o legítimo e único proprietário, não quis publicar por respeito para com os envolvidos, por si próprio e pelos seus leitores.

Já é mau, mas há muito pior.

Do material roubado ao "Correio da Manhã" (cassetes com gravações de conversas sobre um caso de pedofilia que envolve notáveis arguidos e notáveis advogados) foi feito pelo gatuno um resumo - com excertos soltos, mutilado - e foi esta "peça" que "O Independente" divulgou.

É muito pior, mas há o péssimo.

Em entrevista à TSF a directora do semanário concordou que aquilo era um resumo, excertos, uma montagem mas... não tinha dúvidas de que "tudo o que lá está foi dito".

Não interessou à jornalista reparar que o que ouviu ser dito estava objectivamente fora do contexto e truncado - intencionalmente - para servir a estratégia do ladrão. E foi o que ela fez, vê-se que com gosto, tal como uma criada de servir.

Então? - A quem interessa a descredibilização de qualquer processo? Ao arguido, claro, e aos seus advogados. Então, quem terá mandado roubar as cassettes do "Correio da Manhã"?

No Memorável de hoje:

- O novo nº1 mundial da Banca é japonês (Le Temps, Genève)
- Com as aves migratórias e as focas, na baía de Somme (Le Monde, Paris)
- Guerra civil no Iraque (La Vanguardia, Barcelona)
- O novo governo da UE (ABC, Madrid)
- A vaca (Diário de Notícias, Lisboa)
- Pactuando com o pacto (Diário de Notícias, Lisboa)

No Planeta Terra, a mesma clonagem de embriões humanos que desde há um mês dá prisão em França... foi autorizada ontem em Inglaterra.

Il y a tout juste un mois, le Parlement français, à l'issue d'un long débat, trop longtemps différé, interdisait le clonage d'embryons humains. Toutes les formes de clonage. La création d'un embryon, à partir d'un seul parent et non pas issu du brassage des gènes hérités de deux êtres de sexes différents, est désormais punie par la loi. Et ce quel que soit le devenir de l'embryon en question. S'il s'agit de l'implanter dans l'utérus d'une femme afin de donner naissance à un bébé, les responsables de l'opération commettront un «crime contre l'espèce humaine». S'il s'agit de garder l'embryon quelques jours en éprouvette, puis d'en prélever ses précieuses cellules à des fins de recherche, les «cloneurs» encourent une peine de sept ans de prison.

Ce qui est un crime de ce côté de la Manche est autorisé de l'autre. En effet, en Grande-Bretagne, la loi permet la création d'embryons à des fins de recherche, depuis 2002. L'autorisation était encore théorique, jusqu'à hier. Désormais, avec le feu vert donné par les autorités compétentes, la création d'embryon surviendra dans les prochaines semaines dans un laboratoire de Newcastle. (O texto completo está aqui.)

É complexo viver neste Planeta.

Mentira presidencial - Em texto publicado hoje no jornal Público, o Presidente da República escreve, logo na quarta linha do primeiro parágrafo, que milhares de atletas estão nos Jogos Olímpicos de Atenas "unidos na procura do equilíbrio perfeito entre o corpo e o espírito, no prazer do esforço e na exaltação da excelência".

Claro que é mentira. Alguns vão lá para trazerem medalhas e os outros para se divertirem nas viagens, durante a estadia e nas provas.

Como o pressuposto é errado, nem vale a pena ler o resto do escrito presidencial. Mas aqui fica, na íntegra, para que haja dúvidas sobre o dislate, o referido primeiro parágrafo: "Sexta-feira iniciam-se em Atenas os Jogos da XXVIII Olimpíada dos tempos modernos. Na era da globalização, o mundo inteiro terá os olhos postos na capital grega, para onde convergirão milhares de atletas oriundos de todos os continentes, unidos na procura do equilíbrio perfeito entre o corpo e o espírito, no prazer do esforço e na exaltação da excelência."

A não ser - Não se sabe quanto tempo a coisa vai durar ou se será eterna, mas a verdade é que ainda não se consegue olhar para Santana Lopes e ver nele o Primeiro Ministro. A não ser os bajuladores do costume e os muitos que precisam de favores do Poder seja qual for o poderoso principal - Soares, Mota Pinto, Cavaco, Guterres ou os outros.

A do Irão? - Portugal perdeu desastradamente por 4-2 com o Iraque no primeiro jogo de futebol nas Olimpíadas. No final, o selecionador José Romão garantiu que tinha estudado bem a equipa adversária e que não sei que mais.

Talvez tenha estudado uma equipa árabe; mas, se estudou, não foi a do Iraque. Pode ter sido a do Irão.

Esperança - Muita gente em todo o Mundo vai adormecer esta noite na esperança de que amanhã de manhã o xiita radical Muqtada al Sadr já esteja, lá em cima, a conversar com Alá antes de ir conviver com as dezenas de virgens que aqui em baixo foram prometidas a tão glorioso mártir.

No Memorável de hoje:

- Hubble vai ser reparado por um robot (Le Figaro, Paris)
- "Doping de genes" (BBC Brasil)
- Juizes britânicos aceitam provas obtidas sob tortura (BBC Brasil)
- Terapia genética faz macaco preguiçoso virar workaholic (BBC Brasil)
- Vertigineux (Le Figaro, Paris)
- Começa a era da Medicina Regenerativa (ABC, Madrid)

No Memorável de hoje:

- Presidente quer construir castelo de gelo no deserto (BBC Brasil)
- Kerry defende guerra (Jornal do Brasil, Rio)

1. Acho muito bem que os jornalistas gravem as conversas com as suas fontes de informação, autorizados ou não, previamente informados os seus interlocutores ou não.

2. Deviam, aliás, ser obrigatórias tais gravações em todas as redacções. Para o redactor reproduzir com rigor o que foi dito e, claro, para responsabilizar as fontes pelo que disseram.

3. Assim, se uma fonte disser que não disse, leva com o seu próprio som a provar que disse; e se o jornalista escrever o que não foi dito, exige-se-lhe o som para provar que o escrito não foi dito.

4. Transparente. Translúcido. Diáfano. Límpido. Cristalino.

5. Mas a "Lei" não quer assim. Diz que o jornalista comete um crime ao gravar sem prévia autorização do gravado. E a "Justiça" decreta que tal gravação não faz prova em tribunal.

6. Ou seja, a "Justiça" sabe que o criminoso matou a vítima, a prova - real, verdadeira, inequívoca - está na cassete que o repórter gravou às escondidas. Mas o juiz manda para casa o assassino porque a este não foi pedida licença para se guardar o som da sua confissão.

7. Quanto à "Lei": consagra que as fontes podem mentir à vontade desde que mintam sem autorizar que a mentira fique registada.

8. Que fazer? Continuar a gravar! A gravação não serve para a Justiça, mas assegura o sono tranquilo; não é de Lei, mas dá confiança. Em resumo: é o guarda-costas da boa consciência.

Fenómeno - Por solidariedade com o até ontem Director Nacional da Polícia Judiciária, demitiram-se - soube-se hoje - 7 dos 10 Adjuntos. É fenómeno.

E é certo que alguém levou, com estas demissões, uma elegante e valentíssima chapada. Mas em que rosto terá gozado a luva branca dos 8 chefões da PJ?

Nada mais - O nóvel Primeiro Ministro excitou-se com o "caso das cassettes copiadas" (claro, mete jornais e jornalistas) e tem ocupado na sua análise vastas parcelas do seu tempo.

Está a provar-nos que não tem nada mais importante que fazer. Nem na área da Educação, nem na da Saúde, nem na da Economia, nem na da Agricultura, nem na da Política Externa, nem na do Ambiente.

Também está a dizer-nos que para ele é mais importante tratar deste caso de polícia do que das trágicas consequências dos fogos florestais. Por exemplo.

Sem castigo - As cassettes copiadas são propriedade do jornal e do jornalista que as gravou. Apesar disso... inúmeras pessoas exteriores ao diário estão a discutir se o conteúdo deve ou não ser publicamente divulgado pela comunicação social em geral!

Triste é que ao equacionarem o problema estão a admitir que o trabalho de um pode ser utilizado à vontade e de borla por todos os outros. Isto é, que pode ser roubado sem castigo.

Oportunidades - Na sequência da análise que tem estado a fazer sobre o "caso das cassettes copiadas", o nóvel Primeiro Ministro decidiu propor à Oposição (ou só ao Partido Socialista?) um Pacto de Regime sobre Justiça.

Pena que o tenha feito em ligação com um caso de pedofilia que envolve, entre arguidos e queixosos, talvez uns 20 ou 30 cidadãos - entre eles meia dúzia dos "importantes". Para a decisão havia, certamente, dezenas de oportunidades com milhares de portugueses afectados - embora todos anónimos.

No Memorável de hoje:

- Independência para os índios Yanomamis... (Ambiente Brasil)
- Tanta vida no frio antártico! (Le Monde, Paris)
- "Proclamo el Estado catalán" (1931) (La Vanguardia, Barcelona)
- Spirit e Opportunity vivem os últimos dias (ABC, Madrid)
- Mais de 15 mil iranianos inscrevem-se para missões suicidas no Iraque (ABC, Madrid)
- El Chiísmo radical (ABC, Madrid)

Nevoeiro - Cerca de 20 dias depois de o Director Nacional da Polícia Judiciária ter posto o seu lugar à disposição do novo Poder Político, o nóvel Primeiro Ministro e o Ministro da Justiça aceitaram - hoje - a demissão do senhor. Mas não nomearam, no mesmo dia, o substituto.

Incompetência. Tudo o resto relacionado ou relacionável com o caso é, neste momento, nevoeiro.

Isolados - Quase não há notícias da actualidade internacional nas televisões portuguesas. O dia-a-dia do Mundo ocupa talvez um máximo de 10 nos telejornais de 60 minutos.

Não seria uma Revolução no País - maior, mais importante e de melhores efeitos que a do "25 de Abril" - os telespectadores sentirem-se perante isto como inocentes detidos numa prisão, encarcerados cada um numa cela pequena com grades nas janelas, muito pouca luz e sem acesso ao exterior? Ou imaginarem-se, revoltados, todos juntos num campo de concentração de 900x300 km, isolados do Universo?

No Memorável de hoje:

- Porque não? (Diário de Notícias, Lisboa)
- Os melhores (Diário de Notícias, Lisboa)
- A "central" (Diário de Notícias, Lisboa)

Há pelo menos 20 anos - Responsáveis pelo turismo no Algarve dizem que esta é a pior época dos últimos 10 anos. Vêem as praias cheias... mas os hotéis vazios e o comércio sem negócios. E explicam a crise - agora - com os preços elevados que ali são praticados, muito superiores aos do sul de Espanha e do Brasil.

Problema é que o Algarve já é mais caro desde há pelo menos 20 anos atrás e os "responsáveis" não deram importância a este tumor durante as últimas duas décadas.

Porquê? - Del Neri foi despedido do FC Porto passados apenas cerca de 45 dias em funções. Ninguém explicou porque tinha sido contratado.

Guerra civil - Os islamitas radicais conduziam no Iraque uma luta de guerrilha contra as forças da Coligação que o Mundo organizou contra eles. As últimas notícias parecem provar que a situação militar passou a ser de guerra civil.

Quem? - Nesta história da cópia das cassetes em que um jornalista tinha gravadas cerca de 50 horas de conversas com protagonistas do caso de pedofilia conhecido como "Casa Pia", têm faltado as duas perguntas básicas:

- Quem copiou?
- Quem mandou copiar?

Nas respostas encontra-se seguramente a impressão digital do criminoso. Que é o que fundamentalmente interessa. Os restos - embora importantes, como eventuais violações do "segredo de justiça" - são danos colaterais.

No Memorável de hoje:

- Soldado relata a captura da Sadam (ABC, Madrid)
- Dez semelhanças entre o governo Lula e o regime militar (Jornal do Brasil, Rio)

Fado - O jornal "Correio da Manhã" (o 2º mais lido no País) titula, assim, em manchete de primeira página: "GNR sob fogo xiita no Iraque".

Na tradição mais profunda do fado, do masoquismo, da auto-flagelação e do miserabilismo nacionais não escreveu "GNR atira nos xiitas" - ou "GNR dispara sobre xiitas" - quando intervinha nos confrontos bélicos a chamamento e em apoio das forças italianas. Ou, então, "GNR socorre tropa de Itália", ou "Italianos sob fogo pedem ajuda à GNR", etc, etc.

Maus? - A generalidade da Imprensa destaca, mais ou menos assim, que "os maus números do emprego nos EUA no mês de Julho além de terem contribuido para a baixa das bolsas americanas relançaram os receios sobre o crescimento da economia daquele País".

Os "maus números" são estes: foram criados mais 32 000 novos postos de trabalho. Embora menos do que "analistas" previam.

Jornal de paróquia - Escolhi o jornal da SIC. A partir das 20 horas vi esta sequência de notícias:

- despedimento do treinador da equipa de futebol do Porto;
- morte de um piloto na queda de um pequeno avião;
- morte de um rapaz numa piscina, de madrugada;
- atraso na partida de um voo da TAP para o Brasil;
- manifestação de umas mil pessoas contra a construção de três pequenas barragens;
- alguém copiou as cassetes em que um jornalista gravou conversas sobre um processo judicial;
- fogo em Castelo Branco;
- críticas do secretário-geral do PCP ao Governo;
- as instalações onde vai ficar a Secretaria de Estado da Agricultura.

Às 20h30 desisti. Não consegui continuar a assistir ao jornal da paróquia. Eu queria saber o que se tinha passado nas últimas 24 horas no Mundo e em Portugal.

No Memorável de hoje:

- Cassini descobriu "anéis invisíveis" em Saturno (ABC, Madrid)
- Descobertas novas espécies de peixes nos abismos (Jornal do Brasil, Rio)
- Quem ajuda a ONU? (Público, Lisboa)
- "O Pedro está mal" (Correio da Manhã, Lisboa)

Mais trapalhada - Quem está a coordenar a avaliação das consequências dos incêndios florestais é o ministro... das Cidades.

Para além de nenhuma delas ter ardido... é do domínio público que os sectores tragicamente devastados pelo fogo foram Florestas, Pecuária e Agricultura.

Dramático - O nóvel Primeiro Ministro anda muito calado. Tenho a certeza de que o homem resolveu "resguardar-se", pois ele próprio já percebeu que sempre que fala dá asneira. Se há dúvidas no público, esperem pela próxima faladura.

Tem outro aspecto, dramático do meu ponto de vista: ele não vai resistir muito mais tempo à tentação de aparecer nas televisões. E, na verdade, que vale ele sem elas?

Sem vergonha - O ex-candidado à Presidência da República Freitas do Amaral, também professor universitário e consultor de várias entidades, foi admitido para os quadros de pessoal da GALP como assessor jurídico desta empresa das gasolinas e dos gasóleos ainda propriedade do Estado.

Em nome da "transparência", seria interessante saber qual o salário anual que lhe vamos pagar, qual o horário de trabalho que vai cumprir e quantos candidatos ao mesmo posto foram preteridos por causa da benesse com que foi presenteado, supõe-se que a seu pedido. Sem vergonha.

No Memorável de hoje:

- Mais privados à conquista do Espaço (Le Figaro, Paris)
- “República o monarquía? Catalunya!” (La Vanguardia, Barcelona)
- Tempo de novidades (Diário de Notícias, Lisboa)

157. Nunca li, vi, nem ouvi nenhuma notícia sobre quem e como vende armas e munições às milícias iraquianas e aos talibãs afegãos, nem sobre onde estes grupos vão buscar o dinheiro para as pagar.

Será porque no Planeta Terra nenhum jornalista sabe, ou será porque na informação ao público sobre estes temas também o silêncio é de ouro?

Inclino-me para que seja "do" ouro. E, se for, resta ainda saber quem produz, quem guarda, quem distribui e quem recebe o tão precioso metal.

No Memorável de hoje:

- Arafat, en declive (La Vanguardia, Barcelona)
- El Islamismo y la Izquierda (ABC, Madrid)

A TSF noticiou este fim de tarde, às 19h30, que alguns milhares de palestinianos estavam retidos na fronteira do Egipto "a dormir no chão, sem comida e sem água" há já três semanas.

Das duas, uma: ou a notícia não é verdadeira, ou aquela não é a notícia. Se não é verdadeira, a rádio mentiu mais uma vez. Se não mentiu, enganou-se pois a notícia seria a de que "milhares de palestinianos ainda estão vivos apesar de não comerem e de não beberem desde há 21 dias".

Ou, visto o fenómeno de outro ângulo, também se pode dizer que até a TSF teve vergonha de noticiar mais este tão grande milagre de amigos seus da Palestina.

Desisto de falar em erros. São tantos, tantos e tantos que a partir de agora vou encaixar no meu cérebro que a Língua Portuguesa foi apenas a base a partir da qual a Cultura da Guiné Bissau criou uma nova linguagem. Como fez a Cultura brasileira, já há muito tempo atrás; mas - apesar de tudo - com mais regras e maior criatividade.

Sugiro vivamente a leitura dos quatro primeiros textos do Memorável de hoje, os quais estão escritos em guinês. Também podem ir directos à fonte, ao guine-bissau.com.

No Memorável de hoje:

- Como se escreve português na Guiné Bissau - 4 (guine-bissau.com)
- Como se escreve português na Guiné Bissau - 3 (guine-bissau.com)
- Como se escreve português na Guiné Bissau - 2 (guine-bissau.com)
- Como se escreve português na Guiné Bissau - 1 (guine-bissau.com)
- A "Virgem Maria" não ficou virgem e teve mais filhos (Le Temps, Genève)
- Porque está a aumentar o preço do petróleo (BBC Brasil)
- Os falsos mártires de Guantanamo (Le Figaro, Paris)
- Hong Kong recupera a sua vitalidade (ABC, Madrid)
- Outra chacina em prisão do Rio de Janeiro (Jornal do Brasil, Rio)
- O Diário Secreto de Santana Lopes com a idade de 48 anos (Público, Lisboa)
- Algodão transgénico terá enzima insecticida (Ambiente Brasil)
- Índios Xavante exigem regressar a casa (Ambiente Brasil)

Obedecia
Foi num almoço de negócios. Sentaram-se à mesa do restaurante os dois, ela a proprietária de uma "Imobiliária" e ele um interessado em aprofundar conhecimentos sobre preços de venda de apartamentos e moradias, de alugueres de T0, T1, T2, T3 mobilados e sem mobília na cidade e na periferia, de terrenos para construção e sobre todos os outros assuntos com estes relacionáveis.

Escolheram a mesma sugestão da ementa. A travessa chegou. Ele convidou a senhora a servir-se e ela recusou porque - disse - na sua casa "os homens sempre se serviram primeiro". Tem 53 anos.

Insisti com gentileza, "por favor", "por quem é", "a senhora primeiro", e ela, então, pegou nos talheres e tirou - antes de mim - comida para o seu prato.

Olhei os olhos da mulher enquanto se servia e vi que - tipo escrava - sentia que eu, insistindo, mandava e ela só obedecia.

Este post do Quartzo, Feldspato e Mica é muito intimista - chamemos-lhe assim - e um pouco chato, mas vale pela informação de que na Bélgica uma consulta a um médico generalista custa apenas 25 euros.

Acontece que tenho uma Caixa (de Previdência) especial,dado o meu estatuto de pré-reformado da função pública europeia (vulgo "burocracia", ou "eurocracia", PP dixit). Que é assim: vou ao médico, pago, e a Caixa reembolsa-me uma parte até certos limites.
Ora, na Bélgica, uma consulta de generalista custa 25 euros. Em Portugal, custa 70 euros. Como é possível? Vá, calma, já toda a gente(pronto, alguma) devia saber que eu sou um perigoso esquerdista, talvez até meio terrorista. Assim sendo, sou partidário do serviço nacional público de saúde, etc.
Mas, vá, rapaziada e raparigada, não entremos sequer nessa discussão. O caso está aí. Em Portugal, país altamente desenvolvido, uma consulta num médico generalista custa, grosso modo,70 euros, na Bélgica 25 euros. Não me venham dizer que isso se deve ao facto de o sistema de saúde da Bélgica ser mais liberal (de facto, a grande, esmagadora, maioria dos médicos belgas é convencionada e trabalha para as diferentes caixas que são organizadas pelos partidos, perdão, pelas correntes de opinião).
O que eu queria salientar, se me deixassem, é tão só que 70 euros é quase o triplo de 25 euros. Sabendo nós que os salários na Bélgica são muito superiores aos portugueses. Não acham que há aqui qualquer coisa de fabulosamente distorcido? Que a sociedade portuguesa é bestialmente injusta, no concerto europeu? Que as desigualdades sociais em Portugal são gritantes?
Que mereceram as chamadas elites portuguesas para terem destino tão fulgurante numa sociedade tão triste? Será que se premeia o mérito? Não me façam rir, que tenho cieiro.
(Nota, em tempo: na Bélgica, é raríssimo um médico, no consultório, ter secretária: é ele que atende o telefone e recebe o cheque...)

Sempre pensei que os médicos portugueses são, em Portugal, uns gatunos diplomados, sem vergonha e sem remorsos por sacarem - por consulta - 12 ou 14 contos aos desgraçados que ganham menos de 100 por mês. Ou aos que têm salários maiores, pois o roubo é o mesmo, embora com consequências de menor tragédia nos seus mais recheados orçamentos familiares.

No Memorável de hoje:

- Confirmada a identidade de Mona Lisa? (BBC Brasil)
- Libanizar Iraq (La Vanguardia, Barcelona)
- Outra coisa é a mesma coisa (Jornal do Brasil, Rio)
- 37 longos minutos (Le Soir, Bruxelas)

"Plano Tecnológico"
O candidato mais cotado à liderança do Partido Socialista, José Sócrates, vinha sendo acusado de não ter projecto - concreto, elaborado, com uma listagem de soluções pormenorizadas - nem sequer ideias soltas para fazer o País dar pelo menos um salto em frente na tentativa de sair da cauda da Europa. Vai daí, o homem arregaçou as mangas para provar o contrário. E do esforço, que se imagina ter sido gigantesco, resultou o artigo que hoje publica no jornal "Público" (pode ser lido no Memorável) e no qual "detalhou" o seu programa político para governar Portugal.

E que é este, simplesmente: elaborar um "Plano Tecnológico para uma Alternativa".

Claro que o "Plano" (esqueçamos o disparate de como o qualifica e não se pergunte porque não lhe chamou de "Técnico") não está escrito, não existe.

Mas Sócrates já o comenta. Assim: "9. Um Plano Tecnológico: eis a proposta de uma esquerda moderna para uma alternativa política. Vejo este Plano Tecnológico com uma nova agenda para a nossa economia, um projecto capaz de animar um movimento de mudança, de modernização e de mobilização das energias nacionais. É para o desenvolvimento de um programa que dê seguimento a esta visão que devemos convocar o que há de melhor na sociedade portuguesa, das universidades, ao mundo empresarial. Insisto: trata-se de um caminho exigente e orientado, com seriedade, para o médio prazo. Mas é minha convicção que se formos capazes de mobilizar a sociedade portuguesa para o desígnio nacional de um ambicioso salto qualitativo, então poderemos andar mais depressa. E uma coisa é certa: demoraremos muito mais se não fizermos nada."

E só diz banalidades. E confirmou que não tem uma listagem com soluções pormenorizadas. E não conseguiu redigir uma frase que contivesse uma ideia - mesmo que solta - nova, inovadora, mobilizante. E - é mau - vai ser o presidente do segundo maior partido português das últimas eleições legislativas. E - é péssimo - será muito provavelmente, o Chefe do Governo que sairá do próximo acto eleitoral.

Sem alunos
As médias nacionais em Física e Matemática, no Ensino Secundário, foram de 6,2 e 6,8 valores. Como em todo o Mundo, abaixo de 10 são negativas.

Acontece que estas disciplinas dão acesso às áreas das Ciências e Tecnologias do Ensino Superior - aos motores do desenvolvimento. Pois quase não há alunos com notas que sirvam para entrar nelas, quando eram precisos - urgentemente - vários milhares.

No Memorável de hoje:

- Os principais pontos do compromisso na OMC (Le Figaro, Paris)
- "Telefono-te do céu" (Le Temps, Genève)
- E Deus criou as batatas fritas... (Le Monde, Paris)
- Um Plano Tecnológico para Uma Alternativa (Público, Lisboa)

O matrimónio foi hoje, pela Igreja Católica. Aos 34 anos. Primeiro marido. Só ela sabe se primeira paixão, primeiro namorado, primeiro beijo, primeiro sexo, primeiro orgasmo ou que número de quantos. Se é que os numera, que eu não sei.

A cerimónia religiosa começou às 11h30. A profana - inúmeros comes e bebes - às 14h30. Durou até às 21h30.

Não vi, no rosto bonito da noiva, um sorriso de felicidade durante estas longas 10 horas. É certo que não estive sempre de vigia a seus gestos, mas também é verdade que isso não foi necessário para o que aqui importa.

Quando os 170 convidados bateram palmas, naquele costume de pedir aos recém-casados que se beijem frente a nós, ela olhou para mim, encolheu os ombros, levantou as sobrancelhas, enrugou a testa - tudo num segundo - e deixou o marido tocar com os dele nos lábios dela.

Foi nesse momento fugaz que confirmei que a minha prima não estava feliz. E, sendo assim, não percebi porque casou. Mas senti que errou.

Afinal, como revela (embora um pouco envergonhadamente) o jornalista do jornal ABC que escreveu a crónica "Os filhos bastardos de Maomé" (quarto texto do Memorável de hoje) o que se passa em Darfur, no Sudão, é que os maometanos brancos estão a matar os maometanos pretos.

Assim mesmo, fundamentalismo e racismo duro. Do pior que o Planeta Terra tem. E do pior que há em certo jornalismo: a pintura da realidade de acordo com os complexos de cada jornalista.

Por isto, que é evidente: os rapazes que têm escrito e falado sobre o genocídio em Darfur não têm sido capazes de dizer explícita e destacadamente que as vítimas são abatidas por serem de cor preta. Com o argumento, segundo os assassinos, de que "ofenderam o Corão".

Parece - ou será mesmo assim? - que quase toda a rapaziada da comunicação social decidiu que um terrorista não pode ser racista. Talvez por racismo - para eles - ser coisa exclusiva de Sharon, de Bush e de mais uns tantos com o mesmo porte, digamos que de todos os direitistas e da maioria dos centristas. E, claro, por um terrorista - na mesma lógica - ser sempre um esquerdista.

No Memorável de hoje:

- Arqueólogos acham cervejaria com pelo menos mil anos (BBC Brasil)
- Caos na Palestina (Le Monde, Paris)
- Para o Papa a mulher ainda é um ser inferior ao homem (La Vanguardia, Barcelona)
- Os filhos bastardos de Maomé (ABC, Madrid)
- Manuel Alegre (Diário de Notícias, Lisboa)
- Loucuras (Diário de Notícias, Lisboa)