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domingo, outubro 31, 2004

Antecipadamente 

Diz-se que Arafat, internado num hospital militar em Paris, já não consegue reconhecer as visitas. Não há confirmação, mas o declínio era visível há mais de 1 ano. Lembro o que aqui se escreveu em 5 de Outubro de 2003.

Um debilitado Arafat apareceu hoje á noite nas tv´s a dizer qualquer coisa sobre o atentado palestino em Haifa. Não sei se também repararam, mas eu vi que o homem - estranhamente muito emagrecido, pálido e desmemoriado - só repetia as palavras que lhe eram sopradas por um tipo alto que estava atrás dele. Arafat não está em pior estado de saúde que João Paulo II? (O tipo alto era um porta-voz que naquela circunstância fazia o papel contrário: o de ponto.)

Enquanto se aguarda o fim, e contrariando antecipadamente os previsíveis encómios em que se irá desfazer a maioria dos media, vale a pena outra lembrança: A verdade é que Arafat morreu há anos.

Companheiro 

Para não sofrer a humilhação de ver a sua equipa rejeitada pelo Parlamento Europeu, Barroso decidiu abandoná-la e está a fazer outra.

Se for preciso para o mesmo efeito, sacrifica a segunda e faz uma terceira; e até talvez uma quarta ou uma quinta, as que forem necessárias para satisfazer os parlamentares.

Porque Barroso não é um líder; é um companheiro. Que fala no mesmo tom, quando do que precisa a União Europeia é de um Presidente de Comissão que fale mais alto, bem mais alto, nesta Torre de Babel. Dentro e lá fora.

Sinais do atraso - 61 

Sem recibo
O gerente de uma micro-empresa decidiu ir ele próprio à tipografia mandar fazer os documentos para a contabilidade. Encomendou dois livros, um de facturas e outro de guias de remessa.

A primeira carga foi entregue ao cliente acompanhada da guia; no dia seguinte seguiu a factura por correio. Uma semana depois o comprador enviou o cheque; após um mês, porque o papel não havia meio de chegar, telefonou a pedir o recibo.

A chamada foi passada ao gerente, que respondeu assim: "Ó pá, também é preciso recibo? Mas eu ouvi dizer que agora já não é!" Perante a incredulidade e a insistência, disse "vamos ver" e desligou. Voltou a pegar no telefone e chamou para o contabilista a fim de confirmar se era mesmo verdade que "a merda do recibo" era mesmo precisa.

O contabilista nem queria acreditar; até lhe apareceu no pensamento a ideia que estava a falar com o filhito de 8 anos que o gerente lhe tinha mostrado uns poucos dias antes.

Maneira de ser
A senhora da imobiliária respondeu ao cliente que sim, que o apartamento era mobilado e custava 350 euros por mês. O rapaz insistiu: "é mesmo mobilado?" A resposta veio pronta: "é sim senhor".

Foram vê-lo. Na sala faltavam os sofás, a mesinha, um móvel para a televisão e a dita; nos quartos de dormir, as mesas de cabeceira; na casa de banho, o espelho, a prateleira e os resguardos para a banheira; na cozinha, todas os utensílios e a máquina de lavar louça.

O rapaz disse: "mas isto só está semi-mobilado!" E a senhora da imobiliária retorquiu de imediato: "é, o resto tem o senhor de comprar".

E não foi por vigarice. Foi por maneira de ser.

Há anos 

No Memorável de hoje:

- Um sonho por António Barreto (Público, Lisboa)
- A verdade é que Arafat morreu há anos (The Independent, Londres)

sábado, outubro 30, 2004

Divertido 


A febre do Halloween atinge o máximo esta noite. E até diverte este urso do zoológico de San Diego. (AFP)

Para mim também é um instante divertido. Olhar esta excelente foto do urso. O "Dia das Bruxas" nunca me disse nada. Talvez por ver algumas na rua todos os dias.

Sinais do atraso - 60 

Jardinagem
Foram entregues nos serviços do Ministério da Agricultura 3 200 declarações de intenção para plantar olival; todas somadas, chega-se a uma área de 38 mil hectares. Acontece, no entanto, que só há disponíveis 14 mil hectares. Com efeito, dos 30 mil autorizados pela União Europeia para o período 2000-2006, 16 mil já foram plantados.

Continuando a pensar pequenino, colocado perante o problema de só haver 14 mil e de os pedidos serem 38 mil, o Governo propõe que sejam aceites todas as solicitações para plantações até 5 hectares. Quer dizer: para os governantes a olivicultura não é agricultura; é jardinagem de fim de semana em três palmos de terra ou meia dúzia de vasos na varanda. Dramático.

Alguns "pormenores" que fazem bom saber:
- uma plantação com menos de 200 hectares não rendibiliza o investimento em plantas de alto rendimento, na rega gota-a-gota, na apanha mecânica e num lagar com novas tecnologias.
- plantações até 5 hectares são a decisão perfeita para impedir a modernização deste sector.
- 90% dos olivicultores portugueses... têm menos de 500 oliveiras cada um!

Outro "pormenor": determinada empresa de Israel projecta produzir azeite em Portugal. Só avançará se lhe for possível plantar o mínimo de 500 hectares. Qualquer coisa como 200 mil árvores.

O mesmo tipo de moléculas 

No Memorável de hoje:

- Titã contém o tipo de moléculas que originaram a vida na Terra (La Vanguardia, Barcelona)
- Ganhe Bush ou Kerry, a ameaça é a mesma: a baixa do dólar (Le Monde, Paris)
- A tripla mensagem das taxas de juro chinesas (Le Figaro, Paris)
- 10 questões sobre o "homem de Flores" (ABC, Madrid)
- O que é o plástico biodegradável (Ambiente Brasil)

sexta-feira, outubro 29, 2004

De vela acesa na mão 

Costuma dizer-se que "candeia que vai à frente alumia duas vezes". Não será o caso dos 25 Chefes de Estado e de Governo que hoje assinaram a "Constituição" da União Europeia sem previamente terem perguntado aos europeus se precisavam de uma e se queriam esta.

É que não contentes com o desprezo por essas opiniões, vão mais longe: querem a humilhação. Como senhores feudais na Idade Média ou como fazendeiros antes da abolição da escravatura.

Com efeito, depois de terem resolvido tudo sozinhos os indivíduos vêm exigir que o seu acto seja ratificado pelos parlamentos dos Estados membros ou pelas populações de cada País em referendos nacionais. Insolentes, agem como os que no passado decidiam sobre o futuro do "seu" povo ou dos "seus" escravos e depois iam a uns e a outros para escutarem o "sim, senhor". Assim: estando aqueles de costas vergadas perante suas altezas ou eminências e estes amarrados ao tronco no centro da praceta na fazenda colonial. Humilhante.

Ou me engano muito, ou vão ficar às escuras e completamente às aranhas. Pressinto que a candeia vai ser soprada pelos eleitores até o pavio ficar apagado e eles, lá na frente, não vão ter claridade. Cá atrás, vamos seguir caminho mas cada um já com uma vela acesa na mão. E eles, para avançarem, vão ter de esperar pela nossa luz. Se a quiserem; senão ficam para trás.

As "coisas" são como são 

Depois de Vasco Pulido Valente, é agora José António Barreiros que retira os seus comentários das páginas do "Diário de Notícias". Com um argumento arrasador:
"É patente o que está actualmente em causa na comunicação social portuguesa: o domínio dos media pelo grande capital, a entente cordiale entre esse grande capital e o actual Governo. "Poucas serão as excepções.
"A imprensa deixou de ser um problema de direito constitucional à liberdade de expressão, passou a ser um problema de direito comercial à distribuição de dividendos.
"Num quadro destes, eu corro o risco de me transformar na demonstração de que as coisas não são tanto assim quanto parecem
".

Na íntegra e com aplausos pela atitude. Aquelas "coisas" são como são.

Santana caiu 29% 

No Memorável de hoje:

- Santana caiu 29%; PS a 0,7% da maioria absoluta (Jornal de Negócios, Lisboa)
- E depois do adeus por José António Barreiros (Diário de Notícias, Lisboa)
- Lula critica o presidente (Jornal do Brasil, Rio)
- "Regiones, nacionalidades, nación" (ABC, Madrid)
- O jeans ganha o mundo fashion (Jornal do Brasil, Rio)
- Utensílios de 800 000 anos na Ilha de Flores (ABC, Madrid)
- O quebra-cabeças da evolução humana (ABC, Madrid)

quinta-feira, outubro 28, 2004

Boa noite 


São "Xun". O "Xun" é um antiquíssimo instrumento musical chinês de sopro (ocarina), com quase 7 000 anos. Tem seis buracos e é feito em argila, em pedra ou em osso. Dizem que os sons se assemelham aos da flauta e era com eles que me apetecia agora adormecer - para acordar no alto daquela montanha lá ao fundo, vestir e calçar as peles, fazer uma fogueira, descer a bruxa do pau, tomar com ela um chá forte e brincar com os lobos. Pena não haver ursos também.

Nascer 


O eclipse da Lua visto de Ramallah, na Cisjordânia.(AP) Aqui no planeta Terra espera-se que nasça o Estado da Palestina quando Arafat - o mais conhecido habitante daquela cidade - desaparecer de cá e iniciar a viagem ao encontro do seu Alá.

Um mau gestor 

Sem qualquer originalidade, o presidente da TVI pensou que a sua televisão tem que agradar ao maior número possível de consumidores para que as receitas ultrapassem - de preferência com largueza - as despesas. Nada de novo. Passa-se exactamente o mesmo com qualquer marca ou produto existente no mercado. Em qualquer ramo de actividade - dos parafusos aos aviões, às metralhadoras, à metralha, às mangas e papaias, aos preservativos, às meias, às saias, às camisas, aos computadores, aos automóveis e a todos os etc - o objectivo é vender.

Perante aquele pensamento estratégico, o gestor definiu a táctica: a TVI deve ser independente, isenta e objectiva na Informação e plural na Opinião. Como ele entende.
Também nada de novo. Todos os meios de comunicação social cumprem esse dever e todos garantem que são independentes, isentos, objectivos e plurais.

(E são. Pois a independência, a isenção, a objectividade e o pluralismo estão na cabeça dos directores, dos chefes, dos repórteres e dos comentadores. Como cada cabeça sua sentença, a independência, a isenção, a objectividade e o pluralismo de uma não são, a não ser por mera coincidência, os de outra e muito menos os de todas. É por isso que os media são diferentes nos alinhamentos, nas primeiras páginas, nos títulos, nas opiniões. E ganha maior audiência aquele cuja utilidade ou serviço - notícias e comentários - estiver em sintonia com as necessidades e as emoções da maior parcela do mercado consumidor.)

Mas apesar de a doutrina ser banal, nem mesmo assim o presidente da TVI acertou nas medidas concretas no "caso Marcelo". Era fácil.

Quanto à estratégia, provocou a saída do comentador que a maioria dos telespectadores - de todos os quadrantes políticos e classes sociais, com destaque para os decisores - queria ouvir; quanto à táctica, pretendeu açucarar as críticas ao governo... quando o grosso dos governados está enjoado dele, não o quer nem com cobertura de chocolate e até o prefere bem amargo para o deitar fora mais depressa. Provas desta vaga de fundo? Claro: experimentar elogiar as medidas de dois Conselhos de Ministros, pôr nos telejornais mais conversa de ministros e ler os resultados das audiências.

Um mau gestor. Desatento ao mercado. Ou dele desinteressado - talvez porque os seus interesses sejam agora outros e não passem directamente pelo reforço da estação nas lutas do do-a-dia por mais mil ou milhares de telespectadores. Saberemos quando o homem cair. Já escorregou.

Na íntegra 

O discurso histórico que Ariel Sharon fez no Knesset na passada segunda feira apelando ao Parlamento para aprovar o seu plano de retirada da faixa da Gaza pode ser lido no "Memorável" na versão em francês. A versão em inglês está disponível no site do Ministério dos Estrangeiros israelita. Versões em português e espanhol não encontrei.

Vivos até hoje? 

No Memorável de hoje:

- A vingança da "velha Europa" (Le Figaro, Paris)
- Cassini sobrevoou as núvens de Titã (Le Figaro, Paris)
- Cérebros do tamanho de uma toranja (ABC, Madrid)
- Discurso, na íntegra, de Sharon no Knesset (Embaixada de Israel)
HOMO FLORESIENSIS
1 - El estraño caso de la Isla de Flores (ABC, Madrid)
2 - A descoberta de uma nova espécie humana (ABC, Madrid)
3 - Vivos até hoje? (ABC, Madrid)
4 - A Terra há 18 000 anos (ABC, Madrid)
5 - Un enigma llamado "homo floresiensis" (La Vanguardia, Barcelona)
6 - A coexisté avec l'homme moderne (Le Figaro, Paris)
7 - Nom d'un petit bonhomme (Le Temps, Genève)

quarta-feira, outubro 27, 2004

Avó e avô 


Tinha mais ou menos o aspecto da imagem da direita o nosso antepassado homo floresiensis, cerca de 1 metro de altura, braços compridos, cabeça pequena - comparada na imagem da esquerda com a do cientista Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres.

O crânio que ele mostra é de uma mulher de cerca de 30 anos, cujo esqueleto foi descoberto na Ilha de Flores, na Indonésia. Terá cerca de 18 mil anos. Ainda hoje habitantes daquela ilha contam lendas muito detalhadas a respeito de um povo formado por pessoas de um metro de altura - os Ebu Gogo.

A Ilha de Flores nunca esteve ligada ao continente asiático, pelo que o homo floresiensis só pode lá ter ido parar a bordo de uma embarcação construída há 18 mil anos. O que contraria o que até agora era tido como certo: que naquela época os nossos avós não sabiam como andar grandes distâncias em cima da água.

O real e a substância 

1 - O PR é favorável ao alargamento da União Europeia à Turquia. Ontem voltou a explicar-se:

As razões desta posição que já por diversas vezes tive ocasião de defender, são múltiplas: antes de mais, porque tais são os termos do compromisso assumido e de promessas há muito feitas; depois, porque o processo de candidatura à adesão da Turquia remonta aos anos sessenta, em 1999 foi reiterado o seu estatuto de candidato e não são aceitáveis desvios de finalidade; em terceiro lugar, porque os critérios de adesão foram há muito claramente identificados e são iguais para todos os candidatos, pelo que não são admissíveis nem tratamentos preferenciais nem discriminatórios; em quarto lugar, porque as dificuldades vencem-se resolvendo os problemas e não iludindo-os.

Como se vê, não consegue apresentar nenhuma razão substantiva.

2 - Apesar dessa trágica falta, mais à frente fez previsões, para ele realistas, científicas e inquestionáveis:

A perspectiva de alargamento da União Europeia à Turquia – mesmo que seja dentro de vinte anos - constitui uma aposta promissora de interesse mútuo: por um lado, permitirá reforçar o consenso nacional em torno da laicidade do Estado turco; por outro, contribuirá certamente, no mundo conturbado em que vivemos após o 11 de Setembro, para uma melhor percepção da Europa por parte dos países muçulmanos, invalidando a ideia, falsa e perigosa, da tão propalada “guerra de civilizações”.

Escapou-se-lhe que os turcos podem decidir dentro de dois ou três anos - democraticamente - que não querem ser um Estado laico, que a "guerra de civilizações" entre ocidentais e islamitas sempre existiu e que nos dias de hoje se trava apenas mais uma batalha - mundial - nesse conflito longo de séculos.

3 - No plano do real - não no do imaginário ou no das previsões sem fundamento - há que recordar que a Turquia está, pura e simplesmemte, fora das fronteiras geográficas da Europa. E esta é a substância da questão turca.

"Sacrifie son équipe" 

No Memorável de hoje:

- Descoberta nova espécie humana: homo floresiensis (BBC Brasil)
- Cassini fotografou Titã "de perto" (BBC Brasil)
- Descoberto vírus semelhante ao HIV (Jornal do Brasil, Rio)
- Barroso sacrifie son équipe (Le Soir, Bruxelas)

terça-feira, outubro 26, 2004

Órfãos 


O Parlamento israelita aprovou o plano de Ariel Sharon para a retirada dos judeus da faixa de Gaza e de quatro colónias da Cisjordânia. Trinta e sete anos depois da ocupação.

Decisão histórica para Israel, para a Palestina, para o Médio Oriente e para o Mundo inteiro. Chatice para as esquerdas - a tradicional e a altermundialista - pois vêem-se ambas sem inimigo de um momento para o outro. Órfãos de objecto para os seus ódios. Sem alvo para os seus dardos. Sem pretexto para as suas vociferações. Sem direcção para os seus dedos acusadores.

Mas vão reagir e recuperar. Assim, vai ser interessante observar, contar e catalogar os argumentos que vão eleger para desvalorizarem a decisão daquele duro homem de direita - a mesma decisão que nenhum militante de esquerda ousou alguma vez tomar.

Deitados à rua 

O Governo vai gastar 5 237 euros por cada aluno do Ensino Superior, mais 200 euros do que em 2004, de acordo com a proposta do Orçamento de Estado para 2005 apresentado pela ministra da Ciência, Inovação e Ensino Superior.

Se esta fortuna for multiplicada por 5 anos de curso e se lhe somarmos a certeza de que a maioria daqueles rapazes e raparigas nunca terá emprego na área que escolheu, então temos uma ideia correcta da dimensão do desastre que são milhões de contos gastos sem utilidade para o País. Deitados à rua.

Autofagia 

A NASA está quase a enviar ao Espaço o robot em que até agora deposita mais esperança. Chama-se "DART", custou US$ 95 milhões e estará a bordo de um foguete Pegasus, largado de um avião a 13 mil metros sobre o Oceano Pacífico. Irá a uma órbita polar de 750 km de altitude, onde deve encontrar-se com um satélite militar que se desloca a 760 km da Terra.

O objectivo imediato é, claro, experimentar este "DART". O objectivo a curto prazo é explicado sinteticamente por Jim Snoddy, o chefe da missão: "Devemos ser capazes de levar cargas até à Estação Espacial, para a Lua e para Marte através de robots".

É o primeiro passo. No futuro os robots deixarão de ser meros carregadores e tomarão o lugar dos astronautas aos comandos das naves espaciais. Serão eles, também, que irão atravessar os gases e descer nos solos de tudo quanto é planeta, astro, asteróide, cometa e todos os outros longínquos corpos celestes. O Spirit e o Opportunity são os percursores, em Marte, desta nova aventura. Eles que daqui a meia dúzia de meses não serão mais do que simples peças arqueológicas na História da Conquista Espacial.

É o inevitável. Os humanos criam e ensinam máquinas a fazer o que eles próprios faziam e elas passam a fazê-lo melhor, sem erros e mais rápido. Tão eficazmente que os criadores são substituídos pelas criaturas. Desde os motores aos computadores. Em termos de emprego, uma espécie de autofagia. Ou autólise.

Isto porque nenhum cérebro humano conseguiu ainda inventar maneira de serem criados trabalhos para ocupar todos aqueles que estão desocupados por força dos excelentes trabalhos que aqueles mecanismos executam, situação que até também já é chamada por um nome da mesma raiz: mecanização. Tal a importância das maquinetas!

Na íntegra 

É uma curiosidade. O diário Granma (Órgano oficial del Comité Central del Partido Comunista de Cuba) informa: "Asegura Fidel que el país necesitaba actuar con urgencia ante la nueva acción imperialista en el terreno de las finanzas. El peso cubano convertible sustituirá al dólar en las operaciones dentro del territorio nacional. Adoptó el Banco Central de Cuba la resolución pertinente".

E é esta "resolución pertinente" que pode ser lida na íntegra aqui. Vale a pena acompanhar os derradeiros dias do último regime comunista do mundo.

Ao mesmo tempo, as ideias e a linguagem dão para recordar o que se passava há 30 anos em Portugal e o que se passou ao longo de 70 anos na URSS e seus satélites.

Histórico 

No Memorável de hoje:

- Crianças de hoje vão viver até aos 150 (BBC Brasil)
- Histórico discurso de Sharon (La Vanguardia, Barcelona)
- La Constitución de qué Europa? (ABC, Madrid)
- Cuba: 1 peso = 1 dólar mais 10% (Granma, Havana)
- O que Santana fará no congresso do PSD (A Capital, Lisboa)

segunda-feira, outubro 25, 2004

"E eu não posso vê-la" 

Circula na rede este pequeno conto:

Dizem que havia um cego sentado na calçada em Paris, com um boné a seus pés e um pedaço de madeira que, escrito com giz branco, dizia:

"Por favor, ajude-me, sou cego".

Um publicitário, da área de criação, que passava em frente a ele, parou e viu umas poucas moedas no boné. Sem pedir licença, pegou no cartaz, virou-o, pegou no giz e escreveu outro anúncio. Voltou a colocar o pedaço de madeira aos pés do cego e foi-se embora.
Pela tarde o publicitário voltou a passar em frente ao cego que pedia esmola. Agora, o seu boné estava cheio de notas e moedas. O cego reconheceu as pisadas e o perfume e perguntou-lhe se havia sido ele quem reescreveu o seu cartaz, sobretudo querendo saber o que havia escrito ali.

O publicitário respondeu: "Nada que não esteja de acordo com o seu anúncio, mas com outras palavras". Sorriu e continuou seu caminho. O cego nunca soube, mas o seu novo cartaz dizia:

"Hoje é Primavera em Paris, e eu não posso vê-la".


Moral da história: são as emoções das gentes que determinam o andamento dos mercados - não os economistas, nem os políticos, nem os patrões, nem os sindicatos - e há indivíduos dotados de poderes especiais para as detectar logo aos primeiros sintomas.

Por qué 

No Memorável de hoje:

- Por qué Bush debe ganar (ABC, Madrid)
- Regra de bolso (Diário de Notícias, Lisboa)

domingo, outubro 24, 2004

Feitiço 


A UEJF - União de Estudantes Judeus de França lança na terça-feira uma campanha publicitária de sensibilização contra o antisemitismo, na qual aparecem estas imagens de Maria e de Jesus com os dizeres a negro "porca judia" e "porco judeu". Em baixo lê-se em letras brancas: "O antisemitismo: e se fosse um assunto de todos"?

Para o criativo da agência de publicidade "a campanha não é provocadora. Deve fazer reflectir, criar uma espécie de emoção". Disse também que aqueles personagens foram escolhidos para se fugir de "uma campanha de vitimização e de estigmatização. A ideia era sair do esquema judeu-árabe, pois Jesus e Maria são figuras universais que chegam a todo o mundo".

É, no mínimo, arriscado. Pode acontecer que o feitiço se vire contra o feiticeiro. Isto é, que em vez de a maioria dos franceses reflectir sobre a maldade das perseguições aos judeus, reflicta sobre quem foi o "fils de putain" que profanou as imagens sagradas e sobre o castigo que merece. Ou seja, que a emoção seja tanta que turve a razão e impeça a pretendida reflexão. Eu teria escrito "Sale juive aussi..."

Cenários 

Carlos Cruz multiplicou-se em entrevistas ao longo da última semana, na sua qualidade de arguido no processo de pedofilia "Casa Pia". Até ao jornal "Público" de hoje veio dizer das suas.

Depois de meses de silêncio total, volta agora a reafirmar à opinião pública que não é pedófilo. A poucos dias do início do julgamento.

Porque será que sentiu tão grande necessidade, com os seus advogados, de fazer tamanha pressão nesta altura? Muita gente afirma, e muita outra suspeita, de que o faz porque não tem outros argumentos para enfrentar o tribunal.

Também há quem pense que o apresentador de tv já tinha perdido, há vários meses, a batalha da opinião pública - perfilada agora contra ele - e que ainda não se deu conta do fenómeno, por sofrer da doença do vedetismo e, assim, viver viciado na ilusão a que se habituou nos cenários de televisão. Só assim se explicaria que, tão pateticamente, tivesse dito que "admitia sair do país" no final do processo - convencido de que muitas pessoas iriam sentir a sua falta.

Protectorado 

No Memorável de hoje, o texto Guiné-Bissau gerido pela ONU? (Público, Lisboa) da autoria do historiador guineense Leopoldo Amado. Nele o autor defende que o seu país devia ser governado pela ONU durante longos anos, tipo protectorado, pois não está a saber autogovernar-se.

sábado, outubro 23, 2004

Grades 


As grades da prisão são cigarros, nesta imagem que aparecerá nos maços na campanha contra o consumo de tabaco preparada pela União Europeia.

Não se sabe se funciona, mas a ideia é boa e o resultado gráfico também.

Retratos muçulmanos 

O príncipe-ministro do Interior da Arábia Saudita anunciou que as mulheres não poderão votar nas eleições previstas no país para o início do próximo ano. Nem concorrer.

Três razões, três retratos muçulmanos.

1 - Seria preciso adaptar as assembleias de voto, já que as elas teriam que votar em locais separados dos destinados aos homens e onde as equipas das mesas fossem compostas por apenas mulheres.
2 - Seria necessário que as mulheres tivessem bilhete de identidade, algo que só acontece com cinco mil, dado que autorização para o terem existe apenas desde há dois anos.
3 - As candidatas às eleições só poderiam fazer campanha entre mulheres ou em família, pois homens e mulheres que não são da mesma família não podem estar juntos em público.

Três razões para os islamitas continuarem a ser combatidos nesta última guerra declarada pela sua vanguarda corânica ou três motivos para deixarmos o Alcorão ficar como está por ser impossível reescrevê-lo.

Há, claro, uma terceira via, mas só funciona na imaginação: Alá e a Santíssima Trindade - os deuses culpados pela embrulhada - entenderem-se e deixarem-nos viver a todos finalmente em paz.

Cortar 

“Enquanto a despesa pública não descer, desconfiem quando vos disserem que os impostos vão baixar”. A afirmação foi feita por Mira Amaral na sessão de abertura do XV Congresso Nacional da Ordem dos Engenheiros.

É verdade. E uma boa maneira de começar a fazer descer a despesa que nós, público, temos, seria a de cortar ao orador a milionária pensão de reforma que saca mensalmente dos nossos impostos.

Não horror 

Certas pessoas continuam horrorizadas com o tratamento dado a prisioneiros de guerra em Guantanamo e Abou Graib. Tudo bem. Nada a opôr a que manifestem o seu horror. Estão no seu direito.

O que não têm é o direito de ignorar que prisioneiros de guerra do outro lado não são maltratados: são decapitados.

Podem não se horrorizar com a degola de ocidentais por islamitas, sobretudo se esses ocidentais forem americanos ou ingleses. Ignorar, não. Nem moral, nem juridicamente. Mas é o que fazem. A tal ponto que quase somos levados a pensar que não aconteceram aqueles assassinatos a sangue frio em cárceres privados iraquianos. Executados por oficiais e subalternos do Islão.

Quem assim procede obviamente que age de má fé. E cobardemente, sem a coragem de confessar o seu não horror.

Ou a sua alegria. Sem a coragem e boa fé que mostraram os muçulmanos que vimos a festejarem efusivamente o gigantesco massacre de mais de três mil civis inocentes em 11 de Setembro de 2001.

Sinais do atraso - 59 

Imbatível
Determinada empresa está a distribuir folhetos com, entre outras do mesmo tipo, esta mensagem publicitária:

Router wireless. Contém 4 portas RJ45 e wireless. Permite ligações com velocidade até 54 Mbps. Detecta automaticamente ligações LAN e Wan. Opera com 54 Mbps (802.11g) e 11 Mbps (802.11b). Partilha a sua ligação da Cabovisão pelos equipamentos existentes em sua casa (max. 65). Tem firewall com SPI e proteção NAT. Permite autenticação por MAC. Em termos de segurança permite encriptação WEP e WPA (Wi-Fi Acesso protegido). Segue-se o preço.

Alguém sabe do que se trata?

Mas sabe-se, certamente, que se trata de uma mensagem publicitária brilhantemente desadequada do meio escolhido para a divulgar e dificilmente batível por outra em qualquer concurso destinado a distinguir o texto mais ininteligível.

Cumplicidades
Alguns estudantes pretenderam invadir a sala onde reunia a direcção da Universidade de Coimbra, numa acção de protesto organizada contra o pagamento das propinas. A polícia foi chamada e fez o seu papel. Um dos jovens foi detido e alguns outros não foram acariciados.

De imediato se levantou a gritaria da comunicação social, com entrevistas e mais entrevistas a rapazes e a raparigas envolvidos na "luta". Durante longos minutos foi ouvi-los e voltar a ouvi-los a opinar sobre o estado do ensino e o seu financiamento.

Matérias para as quais, como é evidente, não estão minimamente preparados; quando muito, talvez as suas frases fizessem sentido nos jornais ou panfletos das associações estudantis. De estudante para estudante.

(Não é verdade que a rapaziada só uns anos depois do estágio ou primeiro emprego - lá para depois dos 30 anos - estará em condições de dar em público opiniões com algum interesse público? Não se confirma que até lá só os cérebros de génios já passaram a fase inicial da sua formação, saindo do verde para o maduro?)

Problema é que, hoje, aqui entre nós, a malta ou é da mesma ou é de uma idade muito próxima da dos repórteres. E por isso se fazem - e se explicam - cumplicidades. Lá fora, a avaliar pelos telejornais que vejo e pelos jornais que leio, os profissionais informam que os estudantes fizeram isto e aquilo por isto e aqueloutro e não maçam o público com opiniões que nada acrescentam ao vasto interesse público.

100 milhões 

No Memorável de hoje:

- Embrião de ave com 100 milhões de anos (Le Figaro, Paris)
- Aceite de oliva: salud a descubrir (ABC, Madrid)

sexta-feira, outubro 22, 2004

Carta "del compañero Fidel" 

No Memorável de hoje:

- Carta del compañero Fidel a sus compatriotas (Granma, Havana)
- "Deep Impact" vai disparar conta o cometa "Tempel 1" (ABC, Madrid)

1ª em 18 500 


Dois tubarões junto a um cardume de sardinhas. Esta foto rendeu ao texano Doug Perrine o título de "Fotógrafo de Vida Selvagem do Ano". Era uma entre as 18 500, de 50 países, que foram ao concurso do Museu de História Natural de Londres e revista "BBC Wildlife". As melhores serão expostas na Galeria Jerwood, do mesmo museu, até 17 de abril de 2005.

Perrine não contou se aquele tubarão de cima estava contente por já ter almoçado ou se dançava, como que em delírio, por ver tanta comida.

quinta-feira, outubro 21, 2004

A seguir, Titã 


"Aquilo" que se vê a meio, entre duas camadas da atmosfera de Saturno, é comum nos planetas gasosos - segundo os especialistas - e resulta das correntes de gases e das diferenças de temperatura. A fotografia foi tirada há poucos dias a cerca de 5,9 milhões de quilômetros do planeta; a câmera da Cassini-Huygens usou filtros sensíveis à luz infra-vermelha e a escala da imagem é de 69 quilômetros por pixel.

Na próxima terça-feira, 26, aquela sonda vai aproximar-se de Titã, uma das luas de Saturno e, diz-se, um "objecto" parecido com a Terra. A máquina vai chegar a apenas 1 200 quilômetros de distância, cerca de 250 vezes mais próximo do que da última vez que passou pelo local, em Julho. Esperam-se fotos espectaculares: porque nunca foram vistos os pormenores que vamos ver, pela beleza das formas e pelas informações que vão revelar. Estamos a apenas 5 dias de uma emocionante primeira vez.

Em bom rigor 

Em Julho, o ministro das Finanças considerou que a actual taxa de 25 por cento para o IRC era "relativamente competitiva" internacionalmente e não perspectivou a sua revisão. Ontem - e sem ter havido em Agosto e Setembro melhorias na situação económico-financeira nem se perspectivar que tal milagre venha a acontecer nos próximos meses - o Primeiro Ministro disse o oposto, ao anunciar que está a estudar uma nova descida do IRC em 2006.

Com este governo é assim. Ontem era uma coisa, ontem não era a mesma coisa - "há dois meses, que coisa?" - anteontem não era a de tresontem, tresontem não era a de anteontem - "quê? nunca essa coisa foi dita!" - nenhuma era a que é hoje, hoje não é a de ontem mas assemelha-se à que era anteontem - "a coisa que sempre dissemos" - de manhã era uma, ao almoço outra, ao fim da tarde nenhuma das duas. Baralhada. No meio da qual só uma postura é de inteira confiança: nunca confiar nas palavras deles.

Quanto à essência, toda a gente sabe que o imposto sobre o lucro das empresas devia ser de 5 ou menos por cento para o País atrair investimento, produzir barato e exportar 20 ou 30 vezes mais. Aliás, em bom rigor, Portugal devia ser uma offshore.

Evidentemente 

O secretário de Estado da Administração Local afirmou que o actual modelo de financiamento das autarquias "está muito ligado ao próprio investimento imobiliário, ou até à especulação imobiliária".

E ao compadrio, à vigarice, à corrupção, aos atentados contra o ambiente e à destruição da paisagem - esqueceu-se de dizer. Misérias. Lodo em que chafurdam lado a lado câmaras e construtores civis. Porque agrada e faz bem a ambos, evidentemente.

Em 90 dias 

No Memorável de hoje:

- Cuba proibida de utilizar dólares (Granma, Havana)
- Taj Mahal em risco de se afundar (Jornal do Brasil, Rio)
- Ida e volta a Marte em 90 dias (Jornal do Brasil, Rio)

quarta-feira, outubro 20, 2004

Theobroma 


A árvore é o Cacaueiro, da família das esterculiáceas e de nome científico Theobroma cacao, Lin. O fruto é o cacau, esse da foto, de cujas sementes sai uma das maravilhas do Mundo: o chocolate.

"Theobroma" em grego quer dizer "alimento dos deuses". Se os houvesse, era. Todos os chocólatras sabemos isso. Mais: por vezes, nas nossas fantasias, também nos sentimos no Olimpo; eu, por exemplo, quando degusto do negro, 74% mínimo de cacau e pouco açúcar. O mesmo com coco ralado. Embora com este me sinta apenas à porta - do lado de dentro - no palácio das divindades.

A verdade 

Constatando que a comunicação social não lhe era favorável - e que alguma lhe era mesmo hostil - o Primeiro Ministro decidiu alterar a situação. Começou por fazer o que é habitual: criar uma "central de informação" no governo. Depois prosseguiu com mais do habitual: mudou uma administração; a do maior grupo português de media, a Lusomundo, através da qual controla o JN, o DN, a TSF, o 24h e mais alguns. A seguir fez com que Marcelo - o seu principal crítico - saísse da TVI. Pouco depois lembrou à RTP (também para a RDP e LUSA ouvirem) que era um ministro que definia as regras da programação.

Por outras palavras, sentado e menosprezado na cadeira do poder, o PM considerou que era o momento para "pôr no seu lugar" jornais, rádios e televisões. E decretou a investida.

Mas, como não é um estratega, ignorou a reacção da corporação dos jornalistas. Que foi esta, como não podia deixar de ter sido: eles sentiram que lhes foi declarada guerra, cerraram fileiras, não recuam e até avançam para a luta. E porque ignorou a reacção, o homem nem teve cabeça para medir as consequências daqueles seus actos.

Ainda bem, porque não há memória de uma derrota da comunicação social unida em guerra com políticos. Essa é que é a verdade. Eles caem sempre.

Distraídos 

Notícia sobre novos supercomputadores, o primeiro da IBM e o outro da NEC: "Blue Gene/L est capable de maintenir une vitesse de traitement de données de 36,01 téraflops (mille milliards d'opérations en virgule flottante par seconde). Le dernier de la série des ordinateurs SX, le SX-8, a une vitesse de pointe de 65 téraflops, la capacité de calcul la plus élevée du monde et une puissance durable de 58,5 téraflops".

Espantoso é que ainda haja distraídos que querem acabar com o desemprego e, pior, criar mais emprego.

Sharon 

No Memorável de hoje:

- Shimon Peres teme pela vida de Sharon (La Vanguardia, Barcelona)
- "Una derrota de EUA en Iraq sería el principio del fin de la civilización"
(La Vanguardia, Barcelona)
- Leão caçava humanos porque lhe doiam os dentes (Jornal do Brasil, Rio)
- Ao ritmo da tartaruga (Jornal de Negócios, Lisboa)
- A entrada da Turquia por Vasco Graça Moura (Diário de Notícias, Lisboa)

terça-feira, outubro 19, 2004

Excelente 


Não há informações sobre o estado de saúde de um e de outro. Excelente o cavalo no "boneco".

Sobrevivente 


Este tigre de Bengala escapou. Outros vinte foram encontrados mortos no zoo de Sriracha, perto de Bangkok, na Tailândia. (AP) Terão sido vítimas da gripe de aviário, pois eram alimentados com galinhas mortas. Custa.

A claro 

O ministro Morais Sarmento disse o que lhe competia: que há limites à independência da RTP e que o governo deve definir a programação da televisão pública.

Este tem o mérito de pôr as coisas a claro. Sem ser sofisticado. Aposto que gostaria de ter dito mais uma coisa: que o governo vai comprar a SIC e a TVI.

Resta agora contar os dias que faltam para duas vassourada na estação estatal: na direcção de Informação e no Contra-Informação...

Dava prisão 

O ministro do Ambiente disse há dias que admitia a hipótese de racionar a água no Algarve a partir de Março do próximo ano. Claro que muitos operadores turísticos trataram imediatamente de procurar outros destinos para os seus clientes.

E o Algarve ficou com menos. Problema é que já eram poucos.

O ministro transformou-se assim no responsável directo por milhões de euros de prejuízos que vão afectar milhares de pessoas. O que, fora do governo, dava prisão.

Denunciado 

Tariq Ramadan é figura de proa do Islão militante na Europa. Amado pela esquerda tradicional e pelos altermundialistas. De falas mansas. Diálogo, mais diálogo, meias ideias, meias palavras, muitas ambiguidades que os admiradores tomam como postulados.

Pois o professor acaba de ser denunciado pela feminista Caroline Fourest. Vale a pena ler a entrevista que ela deu ao "Le Temps" (Genève) e o testemunho da entrevistadora.

A ideia dele, afinal - imagine-se o desgosto dos seus crentes ocidentais - é a de "fazer uma verdadeira comunidade islâmica" para, depois, "fazer uma sociedade islâmica". Tal como manda o Islão. Na verdade, não há muçulmanos "moderados". Todo o bom muçulmano é um radical que quer a destruição do Ocidente e, dentro de portas, as mulheres como escravas - entre outros "valores". É triste, mas confirmado.

Estalada 

Lê-se no jornal "ABC", de Madrid: "Los ocho presuntos activistas islámicos detenidos en las últimas horas preparaban cometer un atentado con un camión cargado con al menos 500 kilos de explosivos en la zona donde se encuentran la Audiencia Nacional y el Tribunal Supremo en Madrid, informaron fuentes de la investigación".

Os terroristas foram apanhados antes dos crimes. É mais uma vitória do Ocidente sobre os islamitas, um espectacular sucesso das polícias e uma grande notícia. (Que o telejornal das 21h00 da SIC Notícias não deu).

Há o outro lado, o dos políticos: a Espanha não ficou imune a sangrentos actos terroristas depois de ter fugido do Iraque de calças na mão por ordem do sr. Zapatero. Este tipo pensava que ia ficar nas boas graças dos islamitas e que não mais haveria atentados em Espanha. Levou ontem uma valente estalada.

A verdadeira estratégia de Tariq Ramadan 

No Memorável de hoje:

- Rio: favelização chega ao Jardim Botânico (Ambiente Brasil)
- Caroline Fourest denuncia Tariq Ramadan (Le Temps, Genève)
- Tariq Ramadan afinal é um islamita radical (Le Temps, Genève)
- Cogumelos mais caros que ouro (BBC Brasil)
- Roménia é o novo paraíso para as deslocalizações (Le Figaro, Paris)
- "Sadam era en sí mismo un arma de destrucción masiva" (ABC, Madrid)
- Ministo do Ambiente "afunda" o Algarve (Jornal de Notícias, Porto)

Outono 


A estrada, sinuosa, leva ao Monte Katta (alto de 1758 metros) no norte do Japão. (EPA)

É o Outono em todo o esplendor das suas cores. As folhas oferecem-se em extraordinárias variações, indo do vermelho-vivo ao amarelo-ouro, pintadas - ia dizer vestidas - com os tons mais quentes, maduros, impressivos, sensuais que a Natureza tem. Lá como cá. Cá, as das videiras estão simplesmente espectaculares.

segunda-feira, outubro 18, 2004

Classe e credo 


É um quadro do inglês Tim Stoner, exposto na Frieze Art Fair cuja segunda edição decorre em Londres. Os críticos dizem que este, como outros quadros do pintor, vale-se de uma super-exposição à luz para retirar "do objecto" qualquer marca de classe ou credo.

Pode ser que sim. Mas para mim é figura da classe média, não muçulmana, nem índia, nem budista, nem indu. E um bom trabalho.

Queimada 

As favelas estão a crescer, imparáveis, no Rio de Janeiro. Em editorial, o "Jornal do Brasil" preocupa-se com a gravidade da situação e diz hoje sobre as soluções:

"Em busca de soluções, não convém depositar a responsabilidade apenas no poder municipal. Dos líderes comunitários, exige-se a consciência dos riscos a serem encarados pela própria favela. Também falta maior organicidade e mais recursos ao plano habitacional do governo federal. Requer-se ainda a oferta de infra-estrutura adequada a padrões aceitáveis de cidadania. Sem isso, as carências continuarão turvando os sonhos de uma cidade melhor."

Está bem. Se as soluções são essas - "consciência" dos favelados, "maior organicidade e mais recursos" do governo de Brasília e "oferta de infra-estrutura" consonante com "padrões aceitáveis de cidadania" - então não há solução.

Já lá vão uns doze anos. Um amigo meu, brasileiro radical de 70 anos, nado e criado no Rio, lamentava numa fronteira da Rocinha - não lembro se com São Conrado se com o Leblon - não ser possível fazer ali o que Nero tinha feito em Roma uns séculos atrás. Uma queimada. Na ideia dele foi o imperador que lançou o fogo à cidade; não porque fosse louco, mas porque tinha na capital do Império problema igual ao que tem desde há meio século a que, por todas as suas belezas naturais, bem podia ser a capital do planeta Terra.

Chantagem, extorsão, fuga ao fisco 

O PSD exigiu, em 2001, uma verba de 33 mil contos (166.604 euros) para abandonar um andar em Lisboa que lhe tinha sido emprestado em 1975. Os proprietários viram-se obrigados a assinar um acordo com o então secretário-geral do partido, José Luis Arnaut, e pagar aquele montante para que a casa lhes fosse devolvida.

Arnaut é hoje ministro das Cidades. Confrontado com a chantagem, conta o "Público" que ele não se lembra de ter tido intervenção no processo. Assim sendo, passa a outro. E a pergunta é: a que bolso(s) foi parar aquela maquia?

Há outra pergunta, mas nem vale a pena fazê-la. Era para se saber se quem beneficiou da extorsão declarou ao fisco tal rendimento e, depois, se pagou o imposto correspondente.

Carteiristas 

O Orçamento de Estado para 2005 volta a alargar a capacidade das autarquias para cobrar taxas sobre os munícipes. Em 2004 foram taxadas as pedreiras e a ocupação do solo, subsolo e espaço aéreo do domínio público municipal, além da instalação de antenas parabólicas e antenas dos operadores de telecomunicações móveis.

Não se sabe em que bolso, no próximo ano, eles vão meter a mão, estes carteiristas. Mas que mais gente vai ser vítima de tais assaltantes, isso é certo.

Carteiristas. Isto é, tipos que têm um gosto doentio pela nossa carteira. Ou será que existe outro nome para chamar a quem - surrateiro, pelo lado ou pelas costas, ágil, desavergonhado, impenitente - cria e cobra novos impostos?

"Marmelada" 

No Memorável de hoje:

- Os "altermundialistas" não sabem que fazer (Le Monde, Paris)
- A grande "marmelada" (Jornal do Brasil, Rio)

domingo, outubro 17, 2004

Tragédia 


Existem, têm rosto, estão aqui, não são meras palavras de ONG's, nem umas letras em papel. São algumas das 16 criancitas vítimas de excisão do clítoris em Ouagadougou, Burkina Fasso. Há poucas semanas. (Panapress)

As autoras da mutilação foram detidas. Mas isso é o menos. Tão trágico quanto o crime é o facto de as criminosas não terem consciência de que o praticaram.

Refúgios 


Dá prazer olhar uma boa imagem. Nesta, tipo "bilhete postal", uma canoa de pesca navega solitária no delta de Mekong - dos "nove dragões" - ao nascer do sol, perto de Phnom Penh, no Cambodja. As cores são reais. (AP)

Um instante perpetuado. É bom tê-los para, por vezes, parar. Que é como quem diz fugir da poluição das imagens das televisões. Como ouvir clássicos na "Antena 2" para escapar a todos os ruídos, os do ambiente e os da vida.

Nascitura - 2 

Três poeminhas "prá você" / Três letrinhas de cantor / Três prendinhas sem porquê / Três coisinhas do amor
De Eu.

Valsa para uma menininha (Toquinho - Vinícius de Moraes)

Menininha do meu coração
Eu só quero você a três palmos do chão.
Menininha não cresça mais não,
Fique pequenininha na minha canção.
Senhorinha levada, batendo palminha,
Fingindo assustada do bicho-papão.

Menininha, que graça é você,
Uma coisinha assim, começando a viver.
Fique assim, meu amor, sem crescer,
Porque o mundo é ruim, é ruim, e você
Vai sofrer de repente uma desilusão
Porque a vida somente é seu bicho-papão.

Fique assim, fique assim, sempre assim
E se lembre de mim pelas coisas que eu dei.
E também não se esqueça de mim
Quando você souber, enfim,
De tudo que eu amei.

De umbigo a umbiguinho (Toquinho - Elifas Andreato)

Muito antes de nascer
Na barriga da mamãe já pulsava sem querer
O meu pequenino coração,
Que é sempre o primeiro a ser formado
Nesta linda confusão.

Muito antes de nascer
Na barriga da mamãe já comia pra viver
Cheese salada, bala ou bacalhau.
Vinha tudo pronto e mastigado
No cordão umbilical.

Tanto carinho, quanta atenção.
Colo quentinho, ah! Que tempo bom!
De umbigo a umbiguinho um elo sem fim
Num cordãozinho da mamãe pra mim.

Muito antes de nascer
Na barriga da mamãe me virava pra escolher
A mais confortável posição.
São nove meses sem se fazer nada,
Entre água e escuridão.

Muito antes de nascer
Na barriga da mamãe começava a conviver
Com as mais estranhas sensações:
Vontade de comer de madrugada
Marmelada ou camarões.

Tanto carinho, quanta atenção.
Colo quentinho, ah! Que tempo bom!
De umbigo a umbiguinho um elo sem fim
Num cordãozinho da mamãe pra mim.

É bom ser criança (Toquinho - Elifas Andreato)

É bom ser criança,
Ter de todos atenção.
Da mamãe carinho,
Do papai a proteção.
É tão bom se divertir
E não ter que trabalhar.
Só comer, crescer, dormir, brincar.

É bom ser criança,
Isso às vezes nos convém.
Nós temos direitos
Que gente grande não tem.
Só brincar, brincar, brincar,
Sem pensar no boletim.
Bem que isso podia nunca mais ter fim.

É bom ser criança
E não ter que se preocupar
Com a conta no banco
Nem com filhos pra criar.
É tão bom não ter que ter
Prestações pra se pagar.
Só comer, crescer, dormir, brincar.

É bom ser criança,
Ter amigos de montão.
Fazer cross saltando,
Tirando as rodas do chão.
Soltar pipas lá no céu,
Deslizar sobre patins.
Bem que isso podia nunca mais ter fim.

Nascitura - 1

sábado, outubro 16, 2004

Entre duas águas 


Não, o escuro não é uma gigantesca sombra. Também é água, do rio Negro. A foto mostra a escuna francesa de exploração científica "La Boudeuse" quando passava exactamente no local onde as águas dele e do rio Amazonas se encontram, perto de Manaus, no Brasil. (AFP)

Há um fenómeno parecido - menos contrastado - em Kartum, no Sudão, onde se juntam o Nilo Branco (Bahr al-Abyad) e o Nilo Azul (Bahr al-Azraq). Presenciei da margem as águas a misturarem-se e a fluirem depois a uma só cor e ainda hoje lamento não ter voado umas milhas sobre elas para guardar na memória o Branco e o Azul lado a lado. Outro aparte: também lembro muito bem a emoção que senti ao ver o rio Nilo. O da Bíblia, o da Antiguidade, o da História, aquele cujas águas permitiam a extraordinária fertilidade dos terrenos do vale por onde corre, no deserto. Foi uma comoção mais forte do que outra também intensa: a de caminhar nas pedras da pirâmide de Gizé.

Voltando ao Brasil: o navio de França leva uma equipa de antropólogos para junto dos índios Macuje, na Amazónia colombiana.

Girassol deprimido 


Parte da Suiça acordou hoje de manhã sob um manto de neve de cerca de vinte centímetros. Os girassóis, deprimidos, entenderam certamente que chegou o tempo de se irem embora. (EPA)

Sinais do atraso - 58 

Na doçaria
Nós temos o "Bolo-Rei". Os alemães têm o "Marzipan Stollen". Ambos tradicionais e seculares bolos de Natal. Com praticamente os mesmos ingredientes, predominando a farinha de trigo e frutas secas. O nosso também com frutas cristalizadas - algumas pintadas de verde berrante - e o deles com massapão.

Problema é que comparados, aquele é uma espécie de broa de milho, básico, saloio, pobre. Este, pão fino de trigo - do que aqui, até há 30 ou 40 anos atrás, a maioria só comia aos domingos e dias de festa.

E hoje fiquei a saber que uma das empresas alemãs que fabricam o "Marzipan Stollen" está a exportá-lo para supermercados populares de 19 países europeus. O nosso "Bolo-Rei", que se saiba, só reina aqui. E cada vez com menos súbditos. Nas lojas em que estão os dois, nota-se claramente que o alemão está a destroná-lo, conquistando progressiva e facilmente mais apreciadores.

(Apesar disso, sempre é melhor perder tempo degustando umas fatias do "reizinho" do que falando sobre as misérias do Orçamento de Estado para o ano que vem.)

Sem palavras
Vem a talhe de foice. Évora e Salamanca são duas cidades localizadas nas zonas mais desfavorecidas de Portugal e Espanha. Mas o centro da portuguesa é a pindérica Praça do Giraldo; o da espanhola é a sumptuosa Plaza Mayor (ir a "Monumentos", escolher "Plaza Mayor" e depois "Detalle").

(Depois dos cliques, compreende-se seriam um enfado mais palavras sobre o assunto. As imagens gritam por si.)

Sem nome
A TSF passou hoje de manhã uma entrevista de cerca de 1 hora com um economista. Terá começado cerca das 11h05. Às 11h28 sintonizei a estação por acaso; interessou-me o que o homem dizia e decidi ouvir até ao fim, até muito perto das 12h00. A entrevistadora fartou-se de dizer "senhor professor". "Senhor professor" para aqui, "senhor professor" para ali, mas sem nunca nos revelar o nome. Quando a entrevista terminou não sabia quem tinha sido o entrevistado, naturalmente porque a jornalista esteve a conversar sozinha com o professor e não a entrevistá-lo para nós, ouvintes. Não foi esquecimento, não; é mesmo do atraso.

(Apenas às 15h30 soube que tinha ouvido Medina Carreira; no serviço informativo deste horário foi feita uma breve citação de qualquer coisa que ele tinha dito quatro horas antes.)

sexta-feira, outubro 15, 2004

Primeira foto de um planeta extra-solar? 


Parece que sim. É aquele, lá ao fundo, o vermelho. A foto foi divulgada fez ontem 1 mês e sobre a extraordinária descoberta há pormenores aqui. À direita vê-se a estrela 2M1207.

Outra coisa: o conjunto - incluindo as setas, as letras e os números - faz uma imagem admirável.

"Briga de Andorinhas" 


Após seis eliminatórias, os internautas da BBC escolheram o vencedor do concurso "Fotógrafo do Ano". A vencedora foi Veronica Carter, com este "boneco" a que deu o título de "Briga de Andorinhas". Bom.

No se lo crean 

No Memorável de hoje:

- Esperança em vacina espanhola contra a malária (ABC, Madrid)
- A China não consegue travar o crescimento (Le Figaro, Paris)
- Ganó Kerry? No se lo crean (ABC, Madrid)

quinta-feira, outubro 14, 2004

Sinais do atraso - 57 

Desprezando
Um dos principais grupos económicos de Israel enviou a Portugal três técnicos com o objectivo de procurarem aqui proprietários de terrenos agrícolas interessados em se associarem com eles para plantarem e explorarem 500 hectares de olival. Os israelitas fariam o que é difícil: suportariam todo o investimento necessário, forneceriam as plantas, o sistema de rega gota-a-gota e pertencer-lhes-ia a direcção técnica do projecto. Eles são conhecidos em todo o mundo como grandes, para não dizer os maiores, especialistas nesta cultura.

Ao proprietário português propunham a compra imediata de mais ou menos 50% da herdade; com a outra parte, o cidadão nacional entrava para uma sociedade a constituir. No final do quinto ano, com as oliveiras em plena produção e o azeite a ser feito em lagar próprio, a herdade deveria valer o quádruplo do que vale hoje com os terrenos vazios. 400% de valorização em cinco anos. Além de que a comercialização do azeite está garantida pelos canais de distribuição próprios que o grupo detém.

Os judeus falaram com 12 agricultores. Apenas dois aceitaram estudar a proposta. A estratégia empresarial de todos os outros foi a de vender já todo o terreno vazio, desprezando as mais valias e a oportunidade de fazerem mais dinheiro em parceria com reputados especialistas mundiais.

"Também eu sei!"
Um dos proprietários alentejanos tem plantados, desde há três anos, 70 hectares de olival. Na reunião com os técnicos israelitas, ouviu um dizer-lhe que aquilo era tudo para arrancar por se tratar de uma variedade manifestamente pobre em termos de produção. Também ouviu que as oliveiras devem ser regadas a uma média anual de 5 000 m3 por hectare, ele que nem uma gota de água dá àquelas suas plantas. Ouviu ainda o nome da variedade que eles querem cá introduzir e cuja existência ignorava de todo.

Pois no final da reunião, de peito feito, convicto e consciente, disse, justificando deste modo a sua opção pela recusa da sociedade: "Mas o que é que eles julgam? O que eles sabem também eu sei! A mim não me ensinam nada!".

Cães e oliveiras
Há cães em todas as herdades. Soltos, presos, novos e velhos. Todos doentes. Mal alimentados, sem vacinas. Vê-se que a sofrer. Um deles estava amarrado à casinhota por um cadeado de 3 ou 4 metros. Ladrava, aparentando ser um guarda eficaz.

Não era. Só gritava, por qualquer razão que não entendi. Aproximei-me dele duas vezes e nas duas ele, muito atrapalhado, mijou-se todo. Deixou, depois de muita insistência, que lhe fizesse uma festa na cabeça; foi então que vi a enorme ferida que tinha numa orelha.

Percebe-se que um empresário agrícola que não se preocupa com tratar de dois ou três cães revela um nível elevado de atraso. E se o homem não entende que deve tratar dos cachorros, porque haveria de entender que deve tratar de árvores, de dezenas de milhar de oliveiras? Por exemplo, dando-lhes a água e a comida de que elas precisam, como todos os seres vivos, para se desenvolverem com pujança.

Imagens 


Grávidas manifestaram-se em Londres para "denunciar" as más condições de gravidez e parto que, segundo elas, matam cerca de 590 000 mulheres por ano em todo o mundo. A acção deu imagens bonitas como esta; só isso. (AFP)

Pura e simplesmente 

No Memorável de hoje:

- Pura e simplesmente a Turquia não é Europa (Le Figaro, Paris)
- Os principais pontos do último debate Bush-Kerry (Le Figaro, Paris)
- Al Qaeda ameaça a China (The Times, Londres)
- Decifrado o complexo mecanismo da audição (ABC, Madrid)
- "Califa de Colónia" entregue à Turquia (Deutsche Welle, Bona)
Algaraviada (Jornal de Negócios, Lisboa)
- É preciso salvar o PSD (A Capital, Lisboa)

quarta-feira, outubro 13, 2004

Nascitura - 1 

I - A declaração

Dizem
Que o amor
Não é igual
Dizem

Contam
Que há
Muitos
Contam

O dos pais
O dos filhos
Entre irmãos
De amigos

Dos namorados
Dos amantes
O primeiro
Os seguintes

Dizem
Contam
Chamam-no
De nomes

Amor
Paixão
Até dor
De coração

Dizem
Contam
Chamam
E medem

Grande
Eterno
Cego
Louco

Errados
Todos
Todos
Enganados

Eu sei
Que amor
Só há um
O amor

À nova
Mulher
Na minha
Vida

Chama-se
Nascitura
(depois
de criatura)

II - O namoro

15 Jul 2004: A criatura - 1
16 Ago 2004: A criatura - 2
18 Ago 2004: A criatura - fim

Ela continuará protegida 


Ela continuará protegida. O Japão não conseguiu despenalizar a pesca comercial da baleia de Minke. Esta gigantesca criatura continuará como de "commerce en principe interdit", ainda longe de "commercialisable dans la limite de quotas". (AP)

Entre o dobro e o triplo 

Escreve Luis Ignacio Parada no "ABC" (Madrid) de hoje sobre o aumento do preço do petróleo:

No le echemos la culpa a la huelga de Nigeria, sexto productor mundial o a las de Noruega y Brasil; a la subida de impuestos en Venezuela; al sabotaje en los oleoductos de Irak; al terrorismo en Arabia Saudí, primer exportador mundial; al acoso judicial al gigante petrolero ruso Yukos cuyas propiedades puso en venta ayer el Gobierno de Putin; a los daños producidos por los huracanes en las plataformas del Golfo de México; a la especulación; al aumento del consumo de China y la India; a la tensión en Oriente Próximo; al terrorismo internacional; a la incertidumbre ante las elecciones en Estados Unidos.

E conclui: No olvidemos que los Gobiernos de los países industrializados obtienen del petróleo mediante impuestos entre el doble y el triple de beneficios que los países productores.

Frustação 

O número de professores desempregados - do Ensino Secundário e Superior - registados nos Centros de Emprego era de 19 950 no final de Setembro.

O número vai aumentar todos os anos, pois decresce o número de alunos enquanto as Faculdades continuam a fazer "sôtores". Pior ainda é que depois de um ano sem aulas dificilmente qualquer "sem escola" estará em condições de voltar a ensinar. Por falta de exercício e porque outros mais novos lhe passam à frente.

O dinheiro gasto e o tempo passado na formação foram desperdício. O presente é doloroso e a vida será de frustação. E a culpa é de quem não disse aos desgraçados que não havia vagas para mais professores.

Inflamable 

No Memorável de hoje:

- Revolução ferroviária na Suiça (Le Temps, Genève)
- Estátua de Colombo derrubada na Venezuela (BBC Brasil)
- El inflamable precio del petróleo (ABC, Madrid)
- Rio de Janeiro em "guerra civil" (Jornal do Brasil, Rio)
- "Yet Brutus says...", por Vasco Graça Moura (Diário de Notícias, Lisboa)

terça-feira, outubro 12, 2004

Morreram 


Peixes mortos no lago Kankaria, em Ahmadabad, na Índia. Parece que morreram porque adoradores do deus Ganesha deitaram para as águas lixo constituído por gesso e tintas químicas, durante uma cerimónia ali realizada recentemente. (AP)

Rumsfeld 

No Memorável de hoje:

- Escreve Donald Rumsfeld (Le Figaro, Paris)
- Carnaval antiamericano (La Vanguardia, Barcelona)
- Un Nobel para la negación de la evidencia (ABC, Madrid)

segunda-feira, outubro 11, 2004

Extraordinário 

O ministro português dos Negócios Estrangeiros pediu hoje, no Luxemburgo, ajuda da União Europeia à Guiné-Bissau para evitar "situações de instabilidade" como a registada na semana passada no país. Chegou mesmo a dizer que, se a ajuda comunitária tivesse sido transferida normalmente e não se tivessem registados atrasos, a rebelião poderia ter sido evitada.

Ficamos a saber que, para o nosso ministro, a União Europeia... tem culpa pelo assassinato do chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas e de mais alguns tropas durante a sublevação militar. Além de que a União Europeia... tem a obrigação de pagar os salários dos soldados de um país da África Ocidental. E que o dinheiro dos impostos dos europeus... pode ser utilizado pelos guineenses para qualquer outro fim que não o do desenvolvimento económico e social. E também que as esmolas... devem continuar a seguir em dinheiro vivo. E ainda que ao pescador... se deve dar o peixe e não a cana de pescar e ao agricultor... o arroz e não a semente e a enxada para cavar.

O ministro é, sem dúvida, extraordinário. Por defender tão extraordinários disparates.

Talvez agora 

Soube-se hoje que a agência de espionagem israelita Mossad vai concentrar esforços na luta contra a rede Al-Qaeda depois dos atentados da passada quinta-feira na península egípcia do Sinai. A decisão foi tomada por Ariel Sharon.

Excelente notícia para o Ocidente. Melhor, para todo o mundo não muçulmano. Melhor ainda, para todos os habitantes do planeta Terra - com uma excepção, os islamitas radicais.

Talvez esteja a chegar agora o momento de se apanhar Bin Laden, vivo ou morto, preso ou desfeito por um míssil num disparo cirúrgico. Qual raio laser a pulverizar a pedra dos rins.

Desanuviar 

1. O Primeiro Ministro falou ao país com um objectivo: fazer esquecer a crise para que arrastou Portugal. Crise que se sente na cabeça e no corpo inteiro, como se estivesse a trovejar, o calor fosse de 35º à sombra e houvesse muita humidade no ar.

2. Um clima de generalizado mal-estar na opinião pública em relação ao governo e ao chefe dele. Resultante - como motivo próximo - da demissão de Marcelo Rebelo de Sousa; como motivos mais antigos, das sucessivas trapalhadas e contradições, das portagens nas SCUT, das taxas da Saúde, do atraso na colocação de professores, do descrédito, da falta de confiança, da leviandade do personagem, da sua pose - oca e vazia - de Estado.

3. E que disse o PM para conseguir aquele tal objectivo? Disse que ia baixar o IRS, aumentar pensões dos reformados e salários da função pública. Além disto, fez um auto-elogio que durou cerca de 12 minutos dos 14 da comunicação.

4. A táctica é bolorenta e, claro, a maioria já não a papa.

5. O tempo não vai melhorar nos próximos tempos. Continuará nublado, abafado, pegajoso, pesado. Tão incomodativo que não admiraria que muito eleitor dissesse ao Governo que não se preocupasse com os aumentos das reformas e ordenados dos funcionários e a baixa no imposto. Que a gente até nem se importa de pagar para eles deixarem tudo como está e irem-se embora, para o ambiente desanuviar.

Há 50 mil anos 

No Memorável de hoje:

- Un programa informático para gobernar (ABC, Madrid)
- Gay, guei, gái (ABC, Madrid)
- Brasil já era habitado há 50 mil anos (Jornal do Brasil, Rio)

domingo, outubro 10, 2004

Revista a doutrina 

No Memorável de hoje:

- Talvez Bush logró ventaja esta vez (La Vanguardia, Barcelona)
- Revista a doutrina do céu, do limbo e do inferno (ABC, Madrid)
- Mãos limpas (ABC, Madrid)

sexta-feira, outubro 08, 2004

Ladroagens 

Ladroagem 1
O Fundo de Solidariedade para o Comércio, instrumento criado para apoiar a reforma dos comerciantes, não tem dinheiro e o Orçamento de Estado ainda não transferiu os cerca de 15 milhões de euros que prometeu.

Ladroagem 2
Os contribuintes com aplicações em Planos Poupança Acções (PPA), que permitem a um casal obter um benefício fiscal de 399,90 euros com um investimento máximo de 5332 euros, ainda não receberam os reembolsos fiscais de 2003, quando o prazo fixado pelo próprio Ministério das Finanças para as devoluções de impostos terminou em finais de Agosto e de Setembro, respectivamente para os trabalhadores dependentes e independentes.

Ladroagem 3
Um cidadão ia para casa por uma estrada secundária, conduzindo a viatura sem cinto de segurança. A Brigada de Trânsito mandou-o parar e aplicou-lhe uma multa de 120 euros com o argumento de que "o senhor condutor" não ia a cuidar da sua própria segurança, o que só a ele - evidentemente - devia dizer respeito.

Ladroagem etc
Como estas, parecidas ou outras - com assinatura dos ministérios, das autarquias e das empresas públicas - há milhares. Às claras e sem qualquer tipo de remorsos por parte dos autores, co-autores e criadagem.

Tartaruga em cima do poste 

Começou a circular na rede esta deliciosa historinha, que aqui fica guardada com um lamento: o de ter sido outrem o seu criador.

Enquanto suturava uma laceração na mão de um velho lavrador ferido por um caco de vidro indevidamente deitado na terra, o médico e o doente começaram a conversar sobre o Santana Lopes. E o velhinho disse:

- Bom, o senhor sabe... o Santana é uma tartaruga num poste...

Sem saber o que o camponês queria dizer, o médico perguntou o que era uma tartaruga num poste. A resposta foi:

- É quando o senhor vai por uma estradinha e vê um poste da vedação de arame farpado com uma tartaruga equilibrando-se em cima dele.

- Isto é uma tartaruga num poste?

O velho camponês olhou para a cara de espanto do médico e continuou com a explicação:

- Você não entende como ela chegou lá;
- você não acredita que ela esteja lá;
- você sabe que ela não subiu lá sozinha;
- você sabe que ela não deveria nem poderia estar lá;
- você sabe que ela não vai conseguir fazer absolutamente nada enquanto estiver lá.
- Então, tudo o que temos a fazer é ajudá-la a descer de lá!

Para lamentar 

No Memorável de hoje, Assunto para lamentar, por José António Barreiros (Diário de Notícias, Lisboa)

quinta-feira, outubro 07, 2004

O Irã de Kabi 

Corre na comunidade imigrada em Portugal que a principal motivação do levantamento militar de ontem na Guiné-Bissau foi ajustar contas com o general Veríssimo Seabra, Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas. A questão dos salários em atraso dos militares, embora um problema real e grave, terá sido um simples pretexto de que os mentores se serviram para levar a que soldados e oficiais subalternos saissem à rua. Sobre a identidade dos mandantes, os rumores são escassos e, aparentemente, contraditórios.

Afirma-se que este general tinha um longo currículo relacionado com desvio de fundos e negócios ilícitos e diz-se também que foi ele que empurrou Ansumane Mané - dando-lhe o comando e ficando ele próprio em segundo - para a rebelião contra Nino Vieira em 1998, a qual deu origem à sangrenta guerra civil que destruiu meio país e obrigou a que o então presidente abandonasse, derrotado, o poder.

Verdade ou mentira, ainda não se sabe. Confirmado é que os dois principais chefes militares que venceram Nino estão mortos. Abatidos os dois a tiros de outros revoltosos.

Também não se sabe que mais virá a seguir. Mas pode acontecer que a próxima vítima seja Kumba Ialá, o civil que se opôs a Nino nas eleições presidenciais de 1994 e que acabou por o substituir na Presidência da República depois do golpe de Mané e Seabra. Se assim for, dir-se-á que o Irã continua a proteger o velho comandante Kabi e a perseguir e a matar quem ousou erguer-se contra ele.

"Especificidades" de uma democracia africana.

As causas 

Clara, simples, concisa e fácil de assimilar é a citação seguinte, aqui destinada a quem ainda pensa que as causas do terrorismo são a pobreza, a fome, a opressão:

"Dado que a estas alturas se da por supuesto un mínimo de conocimiento sobre Al Qaeda, la teoría de las causas es sorprendente por lo que tiene de ignorante. Porque se refiere a la pobreza y a la opresión y sugiere que Al Qaeda es el producto de sociedades pobres y de gobiernos opresores. Pasa por alto que dos países centrales en la creación de Al Qaeda, Egipto y Arabia Saudí, ponen en cuestión la tesis de la pobreza, y que el problema de los gobiernos dictatoriales de los países árabes y musulmanes es que, en opinión de Al Qaeda, son demasiado liberales.

"Los defensores de la teoría de las causas parecen desconocer por completo los discursos y textos de los líderes del terrorismo fundamentalista. Porque éstos no se construyen alrededor del concepto de desigualdad o de opresión política, ni mucho menos reivindican la democracia y la libertad. Al Qaeda nació y emprendió lo que considera la guerra santa porque desea construir sociedades basadas en estrictos principios islámicos en los que la influencia occidental haya sido completamente erradicada. Por eso sus enemigos son los propios sectores aperturistas y liberales de las sociedades musulmanas y los países occidentales que tienen alguna presencia, política, económica o cultural, en esos países."


Assina Edurne Uriarte, catedrática de Ciência Política na Universidade Rey Juan Carlos e o texto pode ser lido aqui na íntegra.

Já 6. Mais 2 

O Nobel da Química foi para dois israelitas e um norte-americano. Assim, nas ciências - Física, Fisiologia e Medicina, Química - os EUA já somam seis laureados. A eles, de todo o mundo, somam-se dois cidadãos de Israel.

À superpotência do planeta Terra juntou-se a superpotência do Médio Oriente.

Entende-se, ainda melhor, o poderio.

O póquer 

No Memorável de hoje:

- Ainda mal começou..., por José Manuel Fernandes (Público, Lisboa)
- A resposta da fraqueza, por José Pacheco Pereira (Público, Lisboa)
- O póquer total, por Luís Osório (A Capital, Lisboa)
- Um macaco grande que mata leões (Le Soir, Bruxelas)
- Antepassado de T-Rex tinha penas (Jornal do Brasil, Rio)
- ETA y Al Qaeda (ABC, Madrid)
- Nobel para o mundo das proteínas (Le Figaro, Paris)

quarta-feira, outubro 06, 2004

Vizinhos, irmãos & tudo o resto 

Faz muita falta ter presente, fisicamente, um mapa quando se analisa a questão da integração da Turquia na União Europeia. Ao olhá-lo, vê-se de imediato que aquele país está fora da Europa.

Tem outra consequência a cartografia. Se for eliminado o critério das fronteiras geográficas - como fazem os defensores da integração - que argumentos impedirão a entrada dos nossos vizinhos marroquinos, argelinos, tunisinos, líbios, egipcios, israelitas, palestinos, libaneses, sírios, arménios e russos?

E, já agora, a dos nossos irmãos dos PALOP? E a dos irmãos que franceses, ingleses, belgas e espanhóis têm nas suas ex-colónias?

Até se podia falar no Brasil, relevando os fortíssimos laços históricos e culturais existentes entre este país e a mais antiga nação europeia. Também em todos os países de língua espanhola nas Américas do Sul e Central, sublinhando a sua evidente ligação com Espanha. Além de nos próprios EUA, considerando que são obra de emigrantes que sairam de dentro das fronteiras da Europa.

Aliás, da louca megalomania de alguns dirigentes europeus podia retirar-se uma outra consequência: extinguir a ONU - Organização das Nações Unidas e substituí-la pela ONUE - Organização das Nações Unidas pela Europa. Com sede em Bruxelas, Constituição, Forças Armadas, Política Externa comuns, mesma moeda, mesmos regulamentos, mesmo tudo o resto.

O truque 

O presidente da Associação Nacional de Municípios pediu a um ministro para levar uma mensagem ao Primeiro Ministro e ao ministro das Finanças, esta: é preciso abrir os cordões à bolsa se querem continuar a governar.

Querer, querem. Mas a bolsa não tem nada. Para lá meterem algum, vão ter de o ir buscar. Onde? Ao nosso bolso, que não há outro.

Foi no que não pensou o autor da mensagem. Também ignorou que cada vez mais gente sabe daquele truque - comprarem o nosso voto com o nosso próprio dinheiro - e que cada vez menos eleitores vão nessa conversa.

Já 5 

Os norte-americanos David Gross, David Politzer, e Frank Wilczek foram distinguidos com o Prémio Nobel de Física. Dois dias antes, outros dois norte-americanos, Richard Axel e Linda B. Buck, haviam sido premiados com o Nobel de Fisiologia e de Medicina.

E são, assim, já 5, este ano, dos EUA, a superpotência do planeta Terra.

Entende-se o poderio.

Como punir? 

Perguntam como punir a TVI pela saída de Marcelo Rebelo de Sousa? Fácil: pedir-lhe, em movimento nacional, para contratar Luís Delgado para o comentário dominical.

Naturalmente por causa dos efeitos sobre a audiência e sobre as facturas da publicidade.

Estatelada 

A "Media Capital", proprietária da TVI, cedeu. Não resistiu à pressão do Governo e obrigou Marcelo Rebelo de Sousa a acabar com os comentários de domingo à noite.

Vergou-se e, perante o actual poder político, ajoelhou. Tão abaixada, que os telespectadores ficaram com a ideia de que se tinha estatelado.

É verdade. Estatelou-se, sim, sem glória, com o peso do Governo que lhe caíu em cima. Do Governo em queda, claro está.

"Não" à Turquia 

No Memorável de hoje:

- Mais petróleo descoberto no Brasil (Ambiente Brasil)
- A moda da ecografia-espectáculo (Le Figaro, Paris)
- As emoções do cão, como se relaciona connosco e os seus processos mentais (Le Monde, Paris)
- Porque não duas colmeias no quintal? (Le Monde, Paris)
- Porque a Turquia não pode entrar na UE (Le Figaro, Paris)
- Nobel para o mundo dos quartzs (Le Figaro, Paris)
- Nobel para o mundo do olfacto (Le Figaro, Paris)
- "El arma del diálogo" (Diario Ganma, Havana)
- Nova pista sobre o túmulo de Gengis Khan (Jornal do Brasil, Rio)
- Central de intoxicação (Público, Lisboa)

terça-feira, outubro 05, 2004

Contraditório 

O ministro dos Assuntos Parlamentares disse estar "revoltado com as mentiras" e com as "falsidades" que são proferidas todos os domingos na TVI por Marcelo Rebelo de Sousa. Não listou, contudo, nem umas nem outras. Certamente que não por falta de tempo.

Disse também que "não há em país algum uma pessoa a perorar 45 minutos sobre política sem ser sujeita ao contraditório". Mais tarde, funcionários do maior partido no poder chegaram a afirmar que é necessária uma nova regulação que obrigue ao tal "contraditório" nos comentários políticos.

Três curtos registos. Primeiro: ministro e funcionários querem intervir na definição do conteúdo de uma estação privada - como fazem, directa ou indirectamente, na comunicação social estatizada.

Segundo: estes indivíduos querem que Marcelo seja confrontado com um comentador identificado com o Governo. Nem vale a pena colocar a questão de saber se, na lógica desse "contraditório", o homem não deveria também debater com mais um comentador identificado com o PS, com mais outro pelo PCP, mais outro pelo Bloco, talvez mais um pelo PP e ainda mais outros - pelos sindicatos, pelo patronato, pelas religiões e por todas as corporações.

Terceiro: cegos pelo delírio, aqueles personagens não estão a ver o precipício. Para onde será fácil e elegantemente empurrado - com um simples sopro - todo e qualquer infeliz que se sente à frente do Professor para contestar as críticas deste à governação. Um resultado contraditório da intenção.

Da mesma opinião 

O Sporting só conseguiu um empate no jogo de ontem, em casa, com a União de Leiria e graças a um golo já em período de descontos. A equipa "leonina" não vence há quatro partidas, no olhar dos especialistas jogou outra vez muito mal e, nos olhos de todos, a crise está instalada.

Apesar do fracasso - o objectivo era ganhar a Liga e a Taça UEFA - o treinador Peseiro disse que tem condições para continuar o trabalho que vem desenvolvendo.

Benfica e Porto - e os outros 8 ou 9 que estão à frente na tabela classificativa - são da mesma opinião.

Pagador-pagador 

Se o recém-achado critério do utilizador-pagador fosse usado sempre e em tudo e não apenas quando dá jeito para sacar mais umas massas à plebe, quanto deveria custar um bilhete ao plebeu que quisesse ir de combóio de Lisboa a Castelo Branco?

Seguramente mais caro que uma passagem de avião Lisboa-Sydney-Lisboa, em classe executiva, se a ideia fosse equilibrar as contas da CP usando aquele mesmo critério.

CP cujos prejuízos, gigantescos, continuam a ser pagos por não utilizadores e utilizadores. É um outro critério, o do pagador-pagador. Que tem farto uso.

Morte lenta 

No Memorável de hoje:

- El gobierno en el laberinto de Irak (ABC, Madrid)
- El Nobel y el olfato de los políticos (ABC, Madrid)
- O ipê que não floriu (Jornal do Brasil, Rio)
- A prisão secreta de De Gaulle (The Guardian, Londres)
- A morte lenta do PCP (A Capital, Lisboa)

segunda-feira, outubro 04, 2004

Descaramentos 

Outra do reitor da Universidade Católica: quer mais "apoios" - dinheiro, evidentemente - do Estado.

Já recebe do bolso dos pais que para lá mandam os filhos. Como não chega para os gastos que tem, quer que sejamos nós, todos os portugueses, a pagar-lhe os prejuízos. Com os impostos que desembolsamos para as caixas das Finanças.

É preciso descaramento!

(Apetece ser, para o descarado, descarado e meio, e dizer-lhe para pedir esmolas em todos os altares e em todas as missas; se der muito trabalho ou os fiéis não forem parvos, que recorra ao "Banco de Fátima", onde há milhões que não custaram a ganhar.)

Mudando de tom: para cérebros normais, o reitor pede claramente o impossível. Problema é que talvez não o seja para os cérebros do governo, pressionados pelos cérebros do bispado com o argumento de que os cerebrozinhos dos meninos e das meninas serão melhor educados com a inspiração divina, na docência como na discência, da Católica.

Los pistoleros han caído 

No Memorável de hoje:

- Golpe decisivo contra a ETA (ABC, Madrid)
- Los pistoleros "Mikel Antza" y "Anboto" (ABC, Madrid)
- Os mistérios da Educação (Diário de Notícias, Lisboa)

domingo, outubro 03, 2004

Sem fronteiras 

O novo Secretário Geral dos socialistas, José Sócrates, anunciou no Congresso que vai organizar um Fórum Novas Fronteiras. A ideia não é novidade: já um seu antecessor, António Guterres, tinha feito os "Estados Gerais".

O objectivo é somar aos militantes do PS o maior número possível de cidadãos independentes, com vista a garantir a maioria nas próximas eleições regionais, presidenciais e legislativas.

Não se discute a vontade. Mas sublinha-se a falta de imaginação: além de repetir a iniciativa de outro, o novo líder não acertou no nome. Pois face ao objectivo, em vez de "Novas Fronteiras" melhor seria o evento chamar-se Sem Fronteiras.

De liberdade de entrada, sem controles alfandegários, como entre os países da UE; de liberdade de permanência, sem limites, como gostam os desejados independentes. Aberto a toda a gente, abrangente, moderno, global - sem fronteiras como a actual era da globalização.

Facilitismo 

O reitor da Universidade Católica considera que um dos factores que contribuem para o insucesso dos alunos do Ensino Superior é a existência de forte pressão da indústria de diversão nocturna. E defende que o poder político deve intervir na regulamentação desses espaços, de modo a que os estudantes não os frequentem tão assiduamente.

É evidente que o problema existe e é evidente que reitor não preparou bem a aula. Aquilo não é uma questão de Estado, nem de Governo, nem de Esquadra. É um problema da Universidade e que a Universidade pode perfeitamente resolver, listando as causas e implementando as soluções - que são óbvias.

Causa I: culto do facilitismo, da escola às televisões. Vírus que penetra nos cérebros dos rapazes e das raparigas e lá se desenvolve: o fácil é bom, o bom é o sucesso fácil. Passa-se com menos de 10, entra-se na faculdade sem exame e com qualquer nota, os testes são pro-formas, o curso termina-se de qualquer maneira e quanto a emprego logo se vê. Ideias dominantes: trabalho quanto baste, curtição muita, bom som e altos copos.

Solução I: dose dobrada de exigência, da primária à universidade. Sobretudo nesta. Para começar, exames de acesso; depois, horário de trabalho de manhã e de tarde; a seguir, testes trimestrais; chumbo automático com duas negas em três provas; no final de cada ano lectivo, exames duros; passagem para do 1º para o 2º, deste para o 3º e para os outros com nota mínima de 14 ou 15 numa escala de 20.

Claro que há obstáculos: falta de vontade dos reitores e professores; impreparação dos docentes; menos alunos, menos propinas, menos lucro no negócio do Ensino. Mas a verdade é que, com aquele nível de exigência, as discotecas estariam mais vazias, a rapaziada consumiria menos álcool e o País teria melhores profissionais.

Nota final: também o reitor da Católica está afectado pelo vírus do facilitismo. Com efeito, para ele é mais fácil exigir fora - aos políticos e às polícias - o que lhe custa muito fazer lá dentro.

Supercomputadores 

No Memorável de hoje:

- Uma introdução aos supercomputadores (La Vanguardia, Barcelona)
- A aplicação de supercomputadores em Biologia (La Vanguardia, Barcelona)
- O casamento à luz da História (ABC, Madrid)
- Situação dos casais "gay" na Europa (ABC, Madrid)

sábado, outubro 02, 2004

Tragédia 

1. Dizia tudo, fulminante do rancor e da animosidade de mau perdedor, o rosto de João Soares que as câmaras de televisão nos mostraram no primeiro dia: o homem ainda não digeriu a clamorosa derrota que sofreu. Melhor, ainda não a engoliu. Ficou-lhe atravessada na garganta.

2. Manuel Alegre continua bem. Vigilante nas suas funções de guardião dos sonhos e das utopias. Poeta, sempre. Do outro mundo.

3. Jorge Coelho voltou a provar que é o chefe e combatente socialista mais eficaz em cada batalha e, assim, o mais perigoso dos generais para o centro e para a esquerda. Ainda não se percebeu porque deixou que as bases elegessem outro líder.

4. Ferro Rodrigues discursou como se ainda lá estivesse para outras funções que não as de cabide para tristes memórias - não glórias. Para segurar o seu próprio casaco, sujo pela pedofilia na Casa Pia.

5. Diz-se de José Sócrates que estuda os dossiers. Vai ter que estudar mais para, além de meter o socialismo na gaveta, a fechar a sete chaves. E, assim, obter a maioria absoluta nas Legislativas de daqui a dois anos. Se não a conseguir, será Primeiro Ministro aliado ao Bloco de Esquerda ou/e ao Partido Comunista Português.

6. Nesta sequência, cresce a vaga que vai levar António Guterres ao Palácio de Belém. Viu-se, nas linhas e entrelinhas. E se só pensar no regresso aos écrans do sorriso do engenheiro já dá dores, tê-lo na Presidência da República durante 4 ou 8 anos será padecimento de doente incurável, moribundo, em estado terminal.

Está a decorrer assim o Congresso do Partido Socialista em Guimarães. Quanto ao resto, para o País real tanto faz. Outro governo, outro discurso, outra legislação? É igual. Como mijo de padre e urina de sacerdote.

Uma tragédia.

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